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Poesias-->UM RETRATO TEU -- 21/08/2013 - 11:01 (valentina fraga) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Abri o álbum de fotos em crayon.

Ali podia se ver o esforço de tentar ser artista, de tentar captar a alma no brilho do olhar, de cada detalhe do rosto, pescoço, nariz, boca, sinais, cicatrizes, cabelos, tons de pele e tantos outros detalhes que compõe a figura humana.

Ali eu guardava meu tesouro, meu empenho, o meu melhor. Ali estava o esforço concentrado, o trabalho depois da hora, a abdicação de outros programas oferecidos. Ali estava o sacrifício de chegar fora de hora, de até brigar por esse ideal. Ali existia o maior e melhor objetivo da vida, o de ser feliz.

Ali entre todos os desenhos havia o teu desenho, tua fotografia, tua alma, afinal, o objetivo do artista não é outro, senão, captar a alma, retratar além da figura estampada, o maior número de sentimentos que um olhar pode expressar.

Ali passei horas, dias, meses, em teu desenho de todas as cores, preto, sanguine, colorido, pastel, oleo, carvão, em todos os materiais disponíveis. Rascunhava os olhos pequenos, aumentava, diminuia, aumentava novamente, mais brilho, menos brilho, castanho mais claro, que dava a impressão Do olhar contra a luz, castanho mais escuro para o olhar nas sombras. Na cútis, mais branco, mais rosado, mais vermelho, a curva do cabelo, mais para frente, mais para trás, costeletas, sinais, rugas, com bigode, sem bigode, com barba, sem barba, mil formas, mil maneiras, um riso maior, outro menor, um riso apenas.

Ali, naquela folha A1, eu era a dona da situação, mandava e desmandava, decidia sobre hora, local, de que forma, de que jeito tua forma viraria forma, viraria rosto, viraria alma.

Ali entre um plástico e outro é que te guardo, dentro de um grande álbum, entre tantas e tantas figuras, entre tantos e tantos esboços do teu rosto, está guardada tua imagem, uma imagem feita de pó, que qualquer descuido pode desfazer, que qualquer maldade é capaz de estragar.

Ali é frágil como é frágil a vida de quem desenha, de quem vive.



Aqui é diferente. Aqui o sentimento é permanente. Aqui só há cores fortes. Aqui, não é qualquer mão que acaba com o que se formou. Aqui, apesar de não ser palpável como papel, como o pó da tinta, formou-se a imagem, além do óbvio, além do terreno, além dia a dia rotineiro.



Aqui, é onde tudo esta guardado.



Aqui , é onde a imaginação brinca como quer.



Aqui, é onde a mão rascunha a figura.





Aqui, é onde a figura procura a alma.



Aqui, é bem perto.



Aqui, é dentro de mim.





Aqui, é meu coração.



Valentina Fraga


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