R E V E L A Ç Ã O
Sergio Del Picchia 1998
Enfim os olhos se abrem
aos primeiros raios de luz,
e o vulto enevoado,
a presença tão sentida,
a imagem nunca vista,
porem já tão conhecida,
traz no aconchego do seio
o calor e o alimento,
e sublime me revela,
na essência de sua candura,
no contato de sua pele,
o sentido da ternura.
E na noite turbulenta,
cercado de negras nuvens,
perdido entre ondas loucas,
cegas, ensandecidas,
só, no mar enraivecido,
espumejante de ódio,
espasmos sem direção,
carregando em cada vaga,
um turbilhão de mágoa,
se me revela angustiante,
o terrivel sentido de medo.
Serpenteando no leito,
sublimes momentos loucos,
desesperadas súplicas,
carícias e sussuros,
entre gemidos roucos.
E quando os sentidos,
exacerbados, em desespero,
chegam a seu extremo
no auge da paixão,
como se o corpo fosse,
por dentro, percorrido inteiro
pelas lavas de um vulcão,
como se pudessem ser
morte e vida simultâneas
resumidas num momento,
no contato ardente da carne
se me revela lascivo,
o sentido do prazer
Vagando sozinho na vida
num caminho conhecido,
porém sem rumo, perdido,
cercado de tantas almas
mas escravo da solidão.
E encontro repentino
num sorriso diferente
o ideal tão procurado;
e me perco, sensível,
no mistério de um olhar.
E qual uma criança,
vejo então revelado
o sentido da esperança.
E quando os olhos se penetram
num imenso segundo sem fim,
labaredas soltas, imensas,
queimam dentro de mim;
e incontida, indomável
a paixão me toma cega.
Sem limites, irreverente,
subjuga meus sentidos,
escravisa minha mente,
e num longo momento, ardente,
se me revela o amor.
Sorrateira, alucinante,
a serpente me devora;
pequena, me invade traiçoeira;
lentamente cresce, se transforma,
criando em minha alma desprevenida,
feras, dragões, quimeras.
Em minha mente transtornada,
fantasias se tornam verdadeiras;
vejo fantasmas se levantando,
enquando o coração apertado,
tenta pular fora do peito.
Tento resistir ao pesadelo,
mas sucumbo vítima da agonia;
e entre suspiros e queixumes,
se me revela o monstro do ciumes.
O olhar que olha e não me vê.
Frases soltas, esparsas,
onde ansioso me procuro
mas, frustrado, não me vejo.
O olhar que busco carente,
o remedio derradeiro,
qual a mão ao afogado,
me é cruelmente negado.
E em forma de indiferença
me é então revelado
o sentido do desprezo.
E enfim apagada a chama,
a tênue luz da esperança,
com esforço alimentada,
não correspondido no amor,
na amizade, numa afeição,
derrotado, rejeitado,
no amargo gosto do desprezo
se me revela doloroso,
o sentido da desilusão.
Mas no olhar solidário,
da alma a meu lado,
que sente minha angústia
e faz sua a minha dor,
e na palavra amiga
na voz doce, suave,
quase sussurro, baixinho,
conheci revelado
o terno, aconchegante,
sentido do carinho.
Os valores da vida,
mistérios do sentimento,
alegria, felicidade,
esperança, sofrimento,
ela nos mostra devagar,
pois assim como as nuvens
que cada vez que se olha
apresentam nova forma,
a vida se mostra diferente
em cada curva do caminho.
Se morre tantas vezes na vida,
se nasce tantas vezes da morte,
e cada vez que se nasce
algo novo é revelado.
Cada dia uma surpresa,
uma nova revelação.
E quanto mais me conheço,
sinto ainda que mais falta.
Sem saber meu destino,
indefinida minha sorte,
depois de tanto revelado,
o que mais revelará a vida?
E depois dela, enfim,
no final da caminhada
no início de um novo ciclo
o que revelará a morte?
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