Nunca dei muita importância aos rodos.
Admito, contudo que o prazer de deslizar a borracha
sobre uma superfície lisa,
criando ondas em qualquer direção
não é de se desprezar.
O líquido que teimoso foge pelas beiradas,
parece querer brincar.
Avançamos sobre a da direita,
voltamos na da esquerda.
E novas ondas se formam,
insistindo em se espalhar.
Reverências à parte,
Exagerações contidas,
reconheço:
Existem diversões mais sedutoras.
E um rodo será sempre um rodo,
insubstituível, sim,
mas só até a água secar.
Desço pelo elevador de serviço.
Não estou só.
Ao meu lado um feixe de rodos,
abraçado com firmeza por um auxiliar da limpeza.
Educado e falante.
Entre o 24o andar e o térreo aprendi muito sobre os rodos.
Sempre pensei que eles fossem todos iguais.
Tolice minha!
Não é por serem simples rodos que eles não possam ser diferentes.
Resistência, tamanho, aplicação.
Tem rodo pra tudo!
“Observe senhor, a qualidade deste produto.
Neste condomínio não usamos qualquer tipo de rodo.
Aqueles que rasgam a borracha,
soltam o cabo,
aqui não se compra”...
Confidenciou-me o rapaz que,
anestesiado,
afagava cada peça
como se fossem cães de estimação,
ou bailarinos,
a serem cordialmente convidados para
o concerto ou baile de gala do seu trabalho de faxina.
Um pra frente, outro pra trás,
Um pra frente, outro pra trás...
Primmm!! Chegamos.
Com pressa deixo o elevador.
Tinha outras preocupações.
Meus próprios rodos para cuidar...
No mesmo lugar, dias depois, nos encontramos.
Desta vez subindo.
Eu mais calmo.
E ele sozinho.
Mãos vazias,
nenhum rodo ao redor.
Evitei tocar no assunto.
Contive a excitação.
De rodo eu já entendia.
Pra que mais uma explicação?
Despedimo-nos.
Sai logo antes que ele se lembrasse
e levantasse a questão.
Elogiando um detergente,
ou talvez um escovão.
Mas quem não se esqueceu, fui eu.
Antes de entrar em casa ,
contudo,
passei o rodo na charada:
O amor do artesão, por suas ferramentas
é universal.
Mas quem exige bons utensílios
não quer apenas entregar um lindo trabalho.
Quer ver a obra admirada.
Chão limpo, parede lavada.
Aquele homem queria escutar:
Parabéns!
E Puxava com o rodo a palavra,
que só no outro dia
eu,
finalmente,
falei.
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