LEGENDAS
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Poesias-->Mãe Heroína (Carvoeiros do Amazonas) -- 12/05/2001 - 12:42 (J. B. Xavier)
A devastação desenfreada da floresta para a fabricação de carvão vegetal utiliza-se da mão-de-obra infantil, quase escrava, e leva à miséria absoluta, famílias inteiras no interior da floresta amazônica. É um drama surdo que perde em popularidade para os retirantes do Nordeste, mas não menos grave e vergonhoso para um país grandioso como o Brasil. MÃE HEROÍNA (Carvoeiros do Amazonas) Nos olhos baços, Uma desesperança havia, Uma tristeza, Uma melancolia, Um desânimo e um lamento, De sonhos perdidos, Levados pelo vento... No braço esquerdo, Um bebê amparava, Apenas a fome lhe dizia: “Siga!”. Com a mão direita, O segundo penteava, Enquanto este, para a mãe olhava O terceiro, que estava na barriga. Ao redor, O rancho de madeira, Tosco, Lá fora, O ar de fumaça, Fosco, Cheirava o cheiro amargo Do mísero carvão... E cá dentro desse rancho de madeira, Um balaio e um saco Continham a história inteira, Dos sonhos que sonhou Seu coração... Perambulando ainda, No terreiro, Um galo cantava faceiro, Alheio ao drama E à agonia... Um cachorro latia À alvorada, No fogo, uma panela vazia, No coração, Outro fogo a arder, Pela criança que soluçava Debilmente Por não ter o que comer... Sozinha, A força se esvaía, Na lágrima que descia, Silenciosa, pelo rosto forte... Já quase nem lágrimas havia Para chorar... E nos olhos baços Da menina desnutrida, A tragédia Alterava sua vida, Selando sua sorte... Seria apenas uma cruz No descampado, Após a visita da morte... Não tivera filho homem, Infelizmente, O marido já se fora, Era ausente, E ninguém se levantaria Em sua defesa... Mas Deus era bondade, - Pensou ela - E se filho homem Ele não lhe dera, Nem ninguém para diminuir Seu agravo, Talvez fosse para que o carvão, Não fizesse mais um escravo... Agora era partir para o Sul, Onde, ouvira, O leite era abundante... Nada mais do trabalho Estafante De cortar e queimar Toda a madeira... Compraria uma linda mamadeira Para o pimpolho Que ainda estava por nascer... O trabalho – lhe disseram – Era estafante, Mas, como o leite, abundante. E quem acha, pensou ela, Que trabalha demais Noites inteiras, Que venha cortar, Arrumar, armar, queimar, e transformar Em carvão, essa madeira... Ao redor Não havia um só vizinho, Portanto, Não haveria despedidas... Nem no Sul havia alguém A esperar... Mas, se a fome era tanta, Tinha fé Que, a ter que morrer deitada, Iria andando, E morreria de pé... * * *