As nuvens
Elas crescem, milhares de formas
Elas se enchem de sonhos em espécie
As nuvens engravidam de plantas sementes
Todos os cumulus-nimbus de espera e vertigem
As nuvens se enchem de coragem, ventam, criam outras
As pequeninas se esgarçam, se deleitam em danças diurnas
As nuvens pequenas se ajuntam em outras que se adensam em trovoadas
As mais belas se parecem a vulcões avermelhados nos fins de tarde
Minha mãe aponta com os dedos as formas mutantes das maiores
As pequenas fogem à visão de tantas ventanias, os telhados tremem, caem galhos
As mais desenvoltas sacodem a terra com sua voz de Odin, ou com os raios divinos de Júpiter
As mais alongadas têm seu aço temperado por Hefesto, reboam as ferrarias do Empíreo
As nuvens então desabam um choro medonho, antes o barulho e o vento em círculos
Minha mãe recolhe as roupas açoitadas e furadas e remendadas por mão perfeita
Caem pedriscos e ela diz: são os diamantes do céu, são estrelinhas frias
Eu e meus irmãos corremos em meio ao quintal estreito, já balança a ameixeira
Caem pedrinhas de todas as cores, o sol se filtra entre raios, assustamos
Ouve-se o ronco profundo da chuva que chega, próxima
Já não há roupas nos varais, só a calma
Grossas gotas se ajuntam nos telhados
Vem o sono atroz dentro de casa
As nuvens choram
O sono
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