AS FLORES DO MEU IPÊ
(Haikais para Regina Ragazzi)
Francisco Miguel de Moura*
Não é arremedo,
A primavera nordeste,
Chega tarde ou cedo.
Este ano tristinho,
O ipê da minha janela,
Ficou tão sozinho.
Vendo seu vizinho
Todo repleto de flores,
Me deu um beijinho:
“Não demoro, não,
Também vou-me enflorecer
Aquieta, coração!”
Demorou, mas veio
Em flores da cor de ouro
E ficou todo cheio.
Que belo era o sol
Naquela quente manhã:
Não teve arrebol.
Fiz o dia inteiro
Sentinela aquelas flores...
Fosse o ano inteiro!
Antes belo e tarde
Que seu irmão mais ligeiro,
Chegar sem alarde.
Agosto passou
E quase setembro inteiro,
No final florou.
Outubro tão quente
Segurou-te por inteiro,
Meu olho não mente.
Descia do quarto
Que fica no sexto andar,
Para ficar farto
De tua cor e cheiro,
Vendo as abelhas voarem,
Eu voava primeiro.
A primavera ingrata
Chega ligeiro pra uns
A outros maltrata.
Tu, seco, eras vivo:
Ser amante é ser um sábio
Embora cativo
Minha primavera
É você a vida inteira
Pois fico na espera.
Amores cativos
Como nós, você e eu,
Somos sempre vivos.
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*Frâncico Miguel de Moura / ama fazer versos / e os experimenta, / com sentimento e razão. / Se assim se faz um poeta, / a poesia é paixão.
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