É possível mesclar poemas e peixes
através do peixeiro letrado,
mas é a poesia
o plâncton do planeta,
assim os poemas diversos
dispersos na água
ora salobra, ora doce,
ora correnteza de um texto
deixam certezas no mundo.
É possível mesclar poemas e peixes
através da proliferação dos nomes:
o Peixe-Boi, o Vermelho, o Leão, o Cascudo,
o Bandeira,
o Atum Azul do Pacífico,
mas somente a poesia
é o ser abissal,
cria sua própria luz, ilumina um caminho
e atrai as presas com seu limite,
crianças chegarão a profundeza
do seu distinto lar.
É possível mesclar poemas e peixes
através do verso frio:
“o peixe dorme no gelo do supermercado”
e a poesia
pede o desapego das rimas,
já que ninguém se alimenta
de fonemas sem valimento.
Assim o poeta
sua composição proclama,
raspa dela o vocábulo gelado
tira do seu peixe,
antes da entrega,
o que foi refrega, o que seria escama.
Do livro: O último foguete