Como
o leproso, o mais odiado
Toda culpa a me pertencer
Não haveria para onde correr
Ou onde não fosse renegado
Minha vontade seria só a destruição
Do que seria a imagem e semelhança
De quem é Pai de toda esperança
A mesma que alimenta a redenção
Entretanto, ao dobrarem seus joelhos
Para lembrar só do que lhes falta
É ocasião em que a alma mais exalta
O pecado que, supostamente, concebo
Mas não é satisfação alguma
A glória ou sofrimento de quem
Se ilude sobre recompensas além
Dos vermes que os possuirão na sepultura
Cumpro só o papel que é destinado
A todo aquele que é requisitado
Para fazer o que ordena o criador
Solicito, então, que mostre respeito
Pois é árdua tarefa viver nas sombras
Como o álibi do Senhor
Com Seu aval, dirijo-me aos Céus
Embora contrarie a versão oficial
De que tombei frente ao Pai Celestial
Condenado ao mais amargo fel
O mesmo que Jó teria provado
Ao conhecer o inferno por minhas mãos
Sofrimento que veio com a permissão
De quem acompanhava tudo ao meu lado
Braço direito, eu diria, é a melhor forma
De descrever a minha eterna relação
Com Aquele de quem me chamam opositor
Pois vem de sua boca todo aval
Para que a agonia se torne dilúvio
Sobre os que dizem conhecer Seu amor.