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Poesias-->No Ano Passado em Mariembad -- 02/06/2001 - 00:35 (Abilio Terra Junior) |
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(inspirado no filme homônimo, dirigido por Alain Resnais)
Lembro que me encontrei contigo
no ano passado em Mariembad
naquele jardim francês sem árvores ou flores
de linhas retas cartesianas
e me apaixonei – por ti louco fiquei
nos encontramos naquela sacada
mas me afastei a seu pedido
pulando a amurada, pois seu marido
se aproximava – nos encontramos
dentro da ampla mansão
com corredores infinitos e tantos cômodos
tantas vezes sim tantas vezes não
nos perdemos no tempo e no espaço.
Você só em sua cama
envolta em penas de cisne
só e perdida – à espreita dos ruídos
dos passos do seu marido.
Em sua beleza sóbria e angustiada
você circula em seu quarto
qual animal em uma jaula
onde giram seus pensamentos?
Em mim em ti naquele momento
de desespero depois da crise entre você e ele.
Com o medo em seu coração
você não sabe o que fazer.
Nos encontramos – tantas vezes sim tantas vezes não
são imagens que passam – vêm voltam
perdidas nos corredores sem fim, rebuscados,
nos cômodos, no seu quarto
em que você se perde, tresloucada.
Você me pede – por piedade – nos encontrarmos
depois de um ano – um ano passa rápido – você diz.
Seu marido lhe pergunta – onde estava?
Você responde, incerta, em respostas sem convicção
(nos encontramos – tantas vezes sim tantas vezes não)
ele diz que tudo acabou e você lhe pede – por piedade...
Estamos agora – o que é o agora? –
no ano passado em Mariembad
estamos de volta – o tempo gira –
os jardins cartesianos – a amurada quebrada
o grito de susto na festa,
lá estou eu – e o seu marido -
jogamos com aquelas peças – ele me vence.
Combinamos nos encontrar após um ano
o tempo escorre entre nossos dedos,
em nosso corpo, no jardim na mansão,
eu a procuro – no ano passado, agora, sempre,
com o coração em brasa.
Você perdida está – em seu quarto
nos corredores sem fim, em tantos cômodos.
Seu marido a observa – ele diz que chegaram ao fim –
você, ele, o sentimento.
Eu a procuro – você se assusta comigo em seu quarto -
(ou é o seu marido)?
O tempo gira – na ampla mansão -
o tempo parou –o sentimento perdura – eu, você,
a dor da separação – o reencontro, o encontro, o desencontro.
Eu a amo, você me ama, você tem medo,
o tempo, o espaço, giram em si mesmos.
Onde a razão? Os jardins cartesianos estão lá, aqui,
já não são tão cartesianos.
A dor do amor perdura – no ano passado, nesse ano,
o amor dói fundo.
E nesse giro sem fim
desço a escada, lhe vejo sentada à espera.
Andamos lado a lado sem uma palavra,
sem um sorriso – o sentimento presente.
Seu marido nos observa enquanto atravessamos o vestíbulo.
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