Sou Poeta,
O mar quis assim
Um Moraes quis assim
Um Renato quis assim
O botequim quis assim
A praia vazia do Itapuã de outros dias quis assim.
A roda de mendigos abobados na madrugada
Quis assim.
Então no duvides de mim.
Dos pés descalços dos blocos quadrados de pedras velhas
Das balas chupadas das belas oferendas
Dos quepes achados de paixões da prainha
Da fragrância da fábrica de chocolate na tardinha
Da buzina do padeiro perdido
Do suco de limão na chaleira do bico esquisito
Do caiu no poço
Que ninguém me tira o meu bem
Porque só Deus poderia impedir ou o além
De atirar sem piedade palavras impensadas
Como um menino choroso na estrada
Sou poeta
Mas veja bem,
É do rastro da capoeira que se forma
É pela falsa dor que se faz as primeiras prosas
E do trem de ida só para Minas
E do idealizar o beijo da menina
Que vai surgindo na pena o compasso
Que haja luz entre meio o embaraço
E pronta se faz a receita e é simples assim
E não sejas exigentes contigo
Nem Eurípedes foi cedo ouvido
Quando mais você será bicho grilo
Se tu amas persista
Sem não ache outro
Existe sempre outro caminho já dizia o skatista
As possibilidades nas artes são matematicamente infinitas
E me perdoe
É com sinceras desculpas vou me despedindo
Sem paragrafo, vírgula, métrica ou silogismo
Bastando apenas um sorriso
De saber que se chegou até aqui
Ainda não estou sozinho.
24 Novembro de 2020.
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