CONTEMPLAÇÃO
Renato Ferraz
Era fim de tarde
O sol acabara de deixar o cenário poético
Lá no fundo de um céu azul alaranjado
Cumpriu por hoje a sua missão
O mar estava calmo
Porém com aspecto de cansado
Sua fisionomia era carrancuda
Respirava forte um bafo quente
Do vento úmido de verão
Enquanto eu me satisfazia em contemplação
Quando surgiam os primeiros pingos da noite.
No céu, arrisquei a pensar, está o Criador
A observar a sua obra...
O que estaria ele pensando, nessa hora?
Quiçá eu não esteja entre as suas queixas...
As alegres ondas, no seu caudaloso bailado
Entre idas e voltas, como um véu de noiva
Balbuciam sons ininteligíveis, que só a natureza tem o dom de compreendê-los
Eu, sentado num banco à beira da praia, assisto ao espetáculo no limiar do êxtase
Nesse seu frenético vai e vem
As ondas parecem querer me convidar
Para participar da sua diversão
Ora puxam a areia debaixo dos meus pés
Ora respingam em meu colo
Alisam o meu rosto e sussurram
Como o cãozinho de estimação
Que convida sua companhia para passear.
|