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Poesias-->Vou-me embora pro passado -- 26/01/2023 - 15:15 (AROLDO A MEDEIROS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Vou-me embora pro passado

 

     Vou embora pro passado é uma poesia de Jessier Quirino baseada no livro de Marco Polo Guimarães, pegando carona na poesia de Manuel Bandeira Vou embora pra Pasárgada.

     Alterei algumas palavras que acho que meu pai não se lembrava que existiam naquela época. Ela, então ficou assim:

 

 

     Vou-me embora pro passado
     Lá sou amigo do rei
     Lá tem coisas "daqui, ó!" (Colocar o dedo na orelha).
     Roy Rogers, Buc Jones
     John Wayne, Dóris Day
     Vou-me embora pro passado.

 

     Vou-me embora pro passado
     Porque lá, é outro astral
     Lá tem carros Vemaguet
     Jeep Willes, Maverick
     Tem Gordini, tem Opala
     Tem Puma DKW e tem Rural.

 

     Lá dançarei Twist
     Hully-Gully, Iê-iê-iê
     Lá é uma brasa mora!
     Só você vendo pra crê
     Assistirei Rim Tim Tim
     Ou mesmo Jeannie é um Gênio
     Vestirei calças de Baeta
     Faroeste ou Levi’s
     Tecidos que não encolhiam
     Tergal, Percal e Banlon
     Verei lances de anágua
     Combinação, camisola
     Escutarei Al di lá
     Dominique, nique, nique
     Me fartarei de Grapette
     Na farra dos piqueniques
     Vou-me embora pro passado.

 

     No passado tem Jerônimo 
     Aquele Herói do Sertão
     Tem Zé Trindade
     Com Grande Otelo em exibição
     Tem passeio de Lambreta
     De Vespa, de Berlineta
     Marinete e Lotação.

 

     Quando toca Pata Pata
     Cantam a versão musical
     "Tá Com a Pulga na Cueca"
     E dançam a música sapeca
     Ô Papa Oom Mow Mow
     Tem a turma prafrentex
     Cantando Banho de Lua
     Tem mulher bonita e mulher feia 
     Dando sopa pela rua
     Vou-me embora pro passado.

 

     Vou-me embora pro passado
     Que o passado é bom demais!
     Lá tem meninas "paquerando"
     Ao cruzar com um rapaz
     Elas cheiram a Pó de Arroz
     Da Cachemere Bouquet
     Cosmético para o rosto ou Água de rosas
     Colocam Rouge e Laquê
     Chanel Nº 5
     Ou Helena Rubinstein
     Saem de saia plissada
     Ou de vestido Tubinho
     Com jeitinho encabulado
     Flertando bem de fininho.

 

     E lá no Cine Mussi
     Se vê broto a namorar
     De mão dada com o guri
     Com vestido de organdi
     Com gola de tafetá.

 

     Os homens lá do passado
     Só andam tudo tinindo
     De linho Cambraia
     Camisas Lunfor, a tal
     Sapato Clark de couro
     Ou Passo-Doble esportivo
     Ou Fox com fivela preto
     De camisas Volta ao Mundo
     Caneta Shafers no bolso
     Ou Parker 51
     Só cheirando a Áqua Velva
     A sabonete Gessy
     Ou Lifebouy, Eucalol
     E junto com o espelhinho
     Pente Carioca ou Flamengo
     E uma juba na cabeça
     Cintilante como o sol.

 

     Vou-me embora pro passado 
     Lá tem tudo que há de bom!
     Os mais velhos inda usam 
     Sapatos branco e marrom 
     E chapéu de aba larga
     Panamá ou Cartolas de Luxo
     Ouvindo Besame Mucho
     Solfejando a meio tom.

 

     No passado é outra história!
     Outra civilização...
     Tem Alvarenga e Ranchinho 
     Tem Jararaca e Ratinho
     Aprontando a gozação
     Tem assustado à Vermuth
     Ao som de Valdir Calmon
     Tem Long-Play da Odeon
     Mas Chantecler é o bom
     Tem Albertinho Limonta
     Tem também Mamãe Dolores
     Marcelino Pão e Vinho
     Tem Bat Masterson, tem Lassie
     Túnel do Tempo, tem Zorro
     Não se vê tantos horrores.

 

     Lá no passado tem corso 
     Lança perfume que é um estouro
     Geladeira General Eletric
     Tem rádio com olho mágico
     Rádios Philips
     Se ouve Carlos Galhardo
     Em Audições Musicais
     Piano ao cair da tarde
     Cancioneiro de Sucesso
     Tem também Repórter Esso
     Com notícias atuais.

 

     Tem petisqueiro e bufê 
     Junto à mesa de jantar
     Tem biscuit e bibelô
     Tem louça de toda cor
     Bule esmaltado, alguidar
     Se brinca de cabra cega
     De morto-vivo, de garrafão
     Camôni boy, funda
     De rolimã na ladeira
     De rasteira e de pião.

 

     Lá, também tem radiola 
     De madeira e baquelita 
     Lá se faz caligrafia
     Pra modelar a escrita
     Se estuda a tabuada
     De Teobaldo Miranda
     Ou na Cartilha do Povo
     Lendo Vovô Viu o Ovo 
     E a palmatória é quem manda.

 

     Tem na revista O Cruzeiro 
     A beleza feminina
     Tem misse botando banca
     Com seu maiô de elanca
     O famoso Catalina
     Tem cigarros Yolanda
     Continental e Astória
     Tem o Conga Sete Vidas
     Tem brilhantina Glostora
     Escovas Tek, Frisante
     Relógio Omega Ferradura
     Com 24 rubis
     Pontual a toda hora.

 

     Se ouve página sonora 
     Na voz de Ângela Maria
     "- Será que sou feia?
     - Não é não senhor!
     - Então eu sou linda?
     - Você é um amor..."

 

     Quando não querem a paquera
     Mulheres falam: "Passando,
     Que é pra não enganchar!"
     "Achou ruim dê um jeitim!"
     "Pise na flor e amasse!"
     E AI e POFE! e quizila
     Mas o homem não cochila
     Passa o pano com o olhar
     Se ela toma Postafen
     Que é pra bunda aumentar
     Ele empina o polegar
     Faz sinal de "tudo X"
     E sai dizendo "Ô Maré!
     Todo boy, mancando o pé
     Insistindo em conquistar.

 

     No passado tem remédio
     Pra quando se precisar
     Lá tem Doutor de família
     Que tem prazer de curar
     Lá tem Água Rubinat
     Xarope Fenergan e Fosfosol
     Bromil e Capivarol
     Arnica, Phimatosan
     Regulador Xavier
     Tem Saúde da Mulher
     Tem Emulsão Scott
     Tem também Capiloton
     Essência de Terebentina
     Xarope de Limão Brabo
     Pílulas de Vida do Dr. Ross
     Tem também aqui pra nós
     Uma tal Robusterina 
     A saúde feminina.

 

     Vou-me embora pro passado
     Pra não viver sufocado
     Pra não morrer poluído
     Pra não morar enjaulado
     Lá não se vê violência
     Nem droga nem tanto mal
     Não se vê tanto barulho
     Nem asfalto nem entulho
     No passado é outro astral
     Se eu tiver qualquer saudade
     Escreverei pro presente
     E quando eu estiver cansado
     Da jornada, do batente
     Terei uma cama Patente
     Daquelas do selo azul
     Num quarto calmo e seguro
     Onde ali descansarei
     Lá sou amigo do rei
     Lá, tem muito mais futuro
     Vou-me embora pro passado.

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