LIRA DOS SETENT’ANOS
Félix Maier
Poetar é preciso! Mesmo na idade avançada,
Quando a memória falha e a ignorância se robustece,
As musas todas fugiram, mas a chama ainda queima,
E na solidão de um buraco negro a alma padece.
Com rimas e versos, a mente é despertada,
E a poesia se torna ainda uma saída
De um mundo onde tudo parece sem vida,
Onde as palavras um dia foram faca afiada.
Mesmo sem sorte, sem porte, sem norte,
O poeta temporão segue em frente, delirante.
Com o teclado à mão, a mente fingindo ser forte,
Às vezes perdido, mas sempre perseverante.
Na idade avançada, a memória está fugindo do cérebro,
E se homiziando no notebook e no pen drive.
Mas a tecnologia pode ser um extemporâneo aliado
Para armazenar cada verso, cada artigo, cada tratado.
Mesmo que as musas tenham desaparecido,
Que a lira dos vinte anos tenha perdido o garrido,
Ainda há beleza na lira dos setent’anos,
E na poesia um lugar para ser acolhido.
Mas, ainda assim os versos anseiam,
Pelo chamado de uma alma inquieta.
E mesmo sem musas, as mãos passeiam
Pelo teclado, com a mente em voo livre.
Lira dos setent’anos, onde a memória cansa,
E a história da uma longa vida descansa.
Poetar é preciso! É algo que não se mede.
Pois, para escrever, nenhuma idade impede.
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