A ÁGUA ERA NATURAL
Renato Ferraz
A cidade onde morava quando era criança
Veio-me agora a lembrança.
Brincávamos embaixo de árvores
Que sombreavam, como algarobas,
baraúnas, castanholas etc.
Às vezes, mais afastado de casa,
também havia umbuzeiro, juazeiro e quixabeira.
Lembrei que a maior parte do tempo
brincávamos correndo, sem camisas e descalços.
A gente só tomava água quando a mãe lembrava
ou quando a sede chegava ao limite.
Apesar de ser às pressas, para voltar logo a brincar;
era muito prazeroso aquele gut gut.
Não era água gelada, mas descia macia.
Não havia geladeira nas casas como hoje.
Também porque fazia mal à saúde
tomar água gelada com o corpo suado.
Era o que nossas mães mais repetiam.
No final da tarde, o sol, depois de clarear
e o dia e de aquecer o chão e o ar;
agora, com dever cumprido, se despedia.
Lá no sertão, tudo depende dele
para se começar ou concluir qualquer coisa.
É uma permissão necessária!
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