BISSAU LIBERTA
Jan Muá
Antigamente
Eu só via os pássaros atravessarem
Do Pessubé para os coqueirais de Santa Luzia
E de Antula
E os patos grasnarem na ravessia da bolanha
Para a Ilha
Mas nesta manhã
Descobri o canto novo
Entoado no tschom papel
A vibração do povo
Cantando com emoção a libertação
Por ter sua capital liberta
Isto é muito bom
E todos vão lembrar
Todos vão viver
Todos vão sentir e comemorar
Com tam-tam cadenciado de bombolom
E tschum-tschum picado de corá e guitarra
Agora o Pindjiguiti vai ficar limpo
Todo o povo vai comer chabéu
Com festa igual à dos cachos nas palmeiras
As ruas serão avenidas da liberdade
As varandas terão de novo os ecos da conversa fraterna
As acácias rubras serão decoro de ternura
A Candelária terá luz ultraconfessional e nova
E a poesia tomará conta...
Bissau terá pássaros coloridos e canoros
No seu firmamento
O jagudi não será mais seu dono
Não haverá na nova esperança bairros silenciosos
E reprimidos
Nem blitz policial
Nem saídas controladas
Nem trombetas marciais coloniais
Bissau reunirá povo de todos os chãos
Confraternizando no diálogo
No colorido das vestes, na dança, nos ritos
E nas festas
Desde Cupelon a Bandim
Desde Santa Luzia ao Alto-Crim
Terá um Geba fraterno com navegação pacífica
Com muito peixe
Sem rajadas na outra margem
Sem morteiros
Sem troar de canhões
Bissau será agora a comemoração da festa
Após sofrida e longa espera.
Jan Muá
Brasília 1973
[Morador de Bissau nos anos de 1963,1964 e 1965, com este poema, o autor celebra a independência da Guiné-Bissau, presta homenagem aos cidadãos de Bissau e aos guine-bissauenses em geral com muito carinho e saudade].
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