SAGA PAPEL
Jan MUá
Conta para mim
Conta, Joaquim Có,
As sagas da ilha de Bissau
Conta as histórias
Dos régulos do teu chão
Conta o fausto da rainha de Tor
As lendas
As vitórias
As festas
Os banquetes
O ouro
Os panos
O ronco
A casa
A história inteira.
Conta o fio
Que leva a gente através do tempo
À raiz do mito
Que agiganta
Que enobrece
A terra da gente.
Conta, meu velho papel,
De Antula a Prábis as gestas
De Bor, a Tor e a Safim
Até Bejemita e Quinhámel
As tradições de teu povo
Os gritos ancestrais
Tuas heranças
Teu fanado
Teu cansaré
A coletiva força.
Conta a tua emoção
O teu orgulho
E também
A bela história da tua arte
O milagre
Da forma aparecida
Na madeira
Por tua mão.
Bor, Guiné-Bissau, 1964.
[Poema inédito]
Observação: Joaquim Có, refereneciado no poema, era um artesão de etnia papel na Ilha de Bissau. Sua arte privilegiava estatuetas em madeira, representando figuras e símbolos da tribo papel ou figuras feitas de encomenda. Num dia em que sua casa, com cobertura de palha, se ncebdiou, veio ter comigo aflito pedindo-me dinheiro para reconstruir sua moradia. Combinamos que me pagaria com estatuetas representando cenas folclóricas da tribo papel sugeridas por mim.
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