ANOITECEU E EU SONHEI COMO UMA CRANÇA
Renato Ferraz
Anoiteceu e as primeiras horas se passaram lentamente.
Ainda bem!
Eu estava cansado e não gostaria que amanhecesse logo.
Como se isso pertencesse à minha vontade, dormi mais cedo.
Sonhei, acordei, dormi e sonhei novamente.
Desse segundo sonho eu me lembro de quase tudo.
Eu era criança e a noite era clara, iluminada pela lua.
Parecia o cenário da música Luar do Sertão,
eu e outras crianças, no meio da rua, dávamos as mãos,
brincávamos de roda, cantando ciranda e outras músicas da época.
Lembrei que era assim, lá na pequena cidade, onde nasci.
Como o clima era muito quente, e à noite corria uma fresca,
como se dizia; a gente comia apressado e após o jantar,
se reunia para brincar: pulava, corria, gritava, se escondia.
Era ótimo, a gente se sentia tão bem,
nem precisava dar nome àquilo que se passava.
Sentimento de criança é tão diferente! E o mundo, também.
A gente voava e o tempo ajudava. Tudo era tão bom,
como um delicioso sorvete, que acaba logo.
Esse tempo que embalançava as folhas das árvores;
que nos fazia voar de alegria, tanto à noite quanto de dia,
é o mesmo que deixa os nossos cabelos brancos e nos leva outra parte.
Como eu só pensava em brincar, achava que isso só ocorria com os nossos avós.
E que eles eram assim porque já nasceram daquele jeito,
doces velhinhos de cabelos brancos e de palavras mágicas.
E que a criança seria sempre criança, porque Deus nos havia criado somente para brincar
e ser alegre, como os anjos brincam no céu,
e como as estrelas também brincam olhando para a gente.
Ou como as flores, que vivem sempre sorrindo e perfumando a vida.
Mas o tempo passa e a gente cresce e aprende, que cada fase tem seu modo de ser.
E que por mais rápido que o tempo passe,
ele nunca conseguirá levar da gente as boas lembranças das fases da nossa vida.
O tempo só faz o que lhe é permitido. E a criança que a gente foi um dia,
continua viva, ela mora dentro da gente, assim como o nosso anjo da guarda!
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