DESENCANTO
Amarrei as minhas células
-quase todas-
aos teus elétrons invasores.
Sem me dar conta,
suavemente
inventei nosso espaço
todo nosso
e ocupaste esta selva
onde dormem nossas feras.
Então a sobrevida
era a Vida
e cruzamos os momentos
como se fossem eternos.
Plantamos uns jardins
para cobrar o perfume
achando ser possível
a nós dois
o para sempre.
Mas amarras
são amarras.
Os instantes prevalecem.
O sempre perde a posse
e sucumbe silencioso
como um nunca estarrecido.
A magia vira coisas,
os elétrons vão ao longe
e emudecem as células a sós.
A culpa do fim? Não existe.
Ninguém consegue eternamente
estampar como um mapa
na parede, a paixão.
Diluem-se os momentos
os jardins, os perfumes.
As feras sobrevivem docemente
na função de devorar
o para sempre ...
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