obra de todos o abraço d’humanidade que faz a paz e ergue
a cidade vem da fé e do amor que conseguimos
fazer brotar de nós
e quando conseguimos ver em nós
o todo maravilhoso da alma cheia e iludimos
os obstáculos aí somos o mundo novo que se ergue
compartilhamos fragrâncias e dizemos d’universos
mas nem sempre sabemos do real que nos fere
e faz-nos abismos
mas nem sempre surgimos como abrigos
da nossa luta e por isso desfolhamos o mal-me-quer
indo às sortes e escondendo medos
somos então o conflito em si e no querer
a humanidade dividida em credos
o espírito da coisa
sei que vivo e no viver sou amor
e sendo isso sou deus
porque reflexo
qual luz e amplexo
do todo sublime e belo adeus
que um espírito pode exprimir num corpo em calor
já ouvi mil vezes que superior alguém veio
e nesse vir deu exemplo e traído foi
pelo próprio reino carnal
escorraçado e humilhado qual animal
sim o que veio ao inferior esqueceu que o humano rói
d’inveja de si mesmo e não sabe de si como simples meio
sei que vivo e neste viver sou reflexo do que veio
mas sinto-me apenas um poema que a cada verso dói
paixão no bar
ele olha para o copo de barro onde o café
oh negra e líquida coisa que dá fumacinha
e repassa o pensar que o liquida
desde que se sabe freguês e aqui o é
ela sabe que seu eu deixa rastros
às vezes imperceptíveis mas que até eunucos
dão pelo seu estar pois o campus
tem amplidão para esmagar caminhos estranhos
ele e ela há muito sabem que a fumacinha
do café não é fronteira mas profundo sinal
a paixão está em cada fiapo que mal
surge e logo dá o recado que lhes fere nos olhares a menina
oh a paixão é energia subterrânea e aqui o é
ou não seja aquela fumacinha a eterna ginga de outro olé
aquarela onírica
águas do mundo que sois um mar de rios
aonde ides águas qu’ eu canto?
percebo em vós um ego vário dissimulado
em rouco murmurar de delírios
solto na cascata ou à beira do cais ou no casco do barco
que navega ao luar
ai aonde ides águas do meu serenar?
sei que em vós coexiste aquele farto
desejo de tudo a(r)mar numa água só
e percebo dessa poesia partículas que s’evaporam
que saúdam este eu e outros que vos namoram
a cada hora nova com um naco de palavra só
ó vós que sois as águas do mundo em delírios
deixai-me ser uma gota livre no vosso mar de rios
balada do guerreiro espiritual
I
1
Soube hoje que nada é igual ao Nada. Que o Caos
domina a perfeição aparente mostrando que o Todo belíssimo
é um sentir vário semeado pelo Eu.
Soube hoje que desse Nada re-surge o Tempo que,
sei, é a energia que irradiamos. Que irradio.
Vi muitos Outros na demanda da Luz como navio velho
sem rumo, Outros que não sabiam do pavio
e pensaram estar no Caos...
A demanda da Luz abre-nos o Corpo, dilata o Eu
por mais Nada que, por muito tempo, encontremos –
que afinal, não somos consciência do Nós no repente
do hilariante ir às sortes mercantis. Seremos e somos algo
daquele profundo Nada enquanto o sentir qu’ exalamos
não exprimir a divindade do Eu.
Soube hoje que as Horas não dizem a Verdade
e que o Tempo é só
o doce balançar das partículas do pó
que nos fazem sacos de Nada e do Todo, e só!
Eis a batalha da eterna Guerra que guerreamos...
O instinto é uma provisão da sobre-vivência
e nele o Amor perscruta-nos o Eu – e, quando diz m’ Eu
não é egoísmo: a Animalidade que somos,
primeiro, é que vulgarizou a palavra Amor,
dela faz instrumento do poder precário e não natural.
Ah, como é bom sentir n’ Outro olhar o Espírito doce
do imprevisível Caos...!
Batalhas tantas, pelo discernimento do Bem e do Mal,
fazem-nos ser, dia após dia, um Oráculo.
Soube hoje que o Universo é uma maresia de Cosmos
e que o Todo que persigo é o vário Eu que sou...
Soube hoje do m’ Eu e n’ Ele vi
além o inferior – a Animalidade – e nele a Guerra que guerreamos
para estarmos longe do superior Viver.
Por isso me quero cinzas na hora do Nada absoluto...
após o Amor. Ah, essa balada
do guerreiro espiritual...!
Soube hoje que a materialidade animalesca, já o disse,
é um saco onde o Nada e o Todo.
Soube hoje que é preciso ser Força, ser Energia, ser Amor,
contra as igrejas vis que dispensam o Amor
em troca dos Dinheiros que não as livram do temor
da Morte, pois em Vida não sabem da Verdade espiritual!
E é simples ser guerreiro do Belo,
estar vivificando os meios que somos dizendo olá
aos vastos Cosmos que carreamos no Caos dia após dia.
2
Escuto o Cântico que na fragrância
da Terra sabe-me a Vida.
Como que genuino Ser que trabalha
e do seu Mister s’entrega à demanda
da Revolução que lhe estufa o peito
e da vera aldeia que é se faz eleito
na convocação do Todo e mostra de outros a manha
e, aí, é Igreja autêntica contra a canalha
que vive dos outros a Vida –
logo, o Cântico que me veste de nova fragrância!
Não me falem em altares que neles a Intolerância
é lei, mas falem-me do Ser e da Alma vivida.
Não me falem da Alma perdida,
falem-me do Ser d’espiritual Tolerância!
3
Não sei quem somos,
talvez um pátio d’alegrias e choradeiras.;
ou nada disso.
E atuamos às vezes qual ouriço...
Não somos, não estamos nem existe percepção
nesto Ego que pátio comunitário é: nasce aí a tentação,
a espiritual Igreja é rebuliço
no meu olhar a Vida que atiço:
pó c’somico e pagão, percebo aí a Alma trepadeira
entre cosmos...
Não me digam o que somos,
deixem-me na Utopia de sentir a eira
onde o trigo sossega e sentar na beira
da Vida a interrogar o que fomos!
II
4
Viver é uma prece,
soube hoje.
Porque o Hoje é o Sempre e o Depois –
sim, e na ilusão de que pode(re)mos ser mais que os semelhantes
esquecemos que somos um cais, um sagrado cais
que ultrajamos ao não estendermos a Verdade a todos.
Sim, Nós fazemos o Tempo agitando as mil razões...
soube hoje,
ao banhar-me como íntima igreja, qual prece!
5
Há um sábio em cada Eu,
mas a magia que o fará Guerreiro virá do Amor
e, nesse toque, dirá: eis-me, Eu...!
Livro 2
RAIZES
o natal que somos teluricamente
somos estando
já o mundo que somos
é a aldeia de todas as pátrias
babel de nadas
precisamos agora d’ olhar
em nós e nos nadas
e descobrir pátrias
que digam o que somos
já o mundo
desconhece fraternidade
alguns ainda cantam
precisamos d’ amor
e nos encantam
surge aí nova urbanidade
um novo mundo
vivamos a vida
sejamos coro e idade nova
vivamos o amor
oh alegria
sinos de natal no clamor
d’alma que se renova
já somos vida
frater natal
sei que nasci Ontem
para Hoje estar mesmo não o sendo
quando o Amanhã se pronuncia
e então bebo no cálice do dia a dia
o fermento cósmico que m’ alivia
o parto que me é rio de unguento
que corre para o Ontem
e então percebo que vivo um Agora jovem
sempre jovem e por ele aguento
o vórtice existencial entre a Perfídia
(que age em própria Alquimia)
e o Amor que m’ alicia
e eis que re-encarno n’ alegria e no lamento
que em Mim vive o jovem
ao descobrir em Mim o eterno Ontem
sei que memorizo o Cosmo relendo
as possibilidades do Amanhã e faria
como sempre faço a Vida em pleno dia
ou plena noite como que garantia
do Eu entre as correntes d’ unguento
na formação da Mulher e do Homem
um Eu fraterno que diz do Homem
e da Mulher no assumir o Natal e querendo
Vida e Amor no ritmo da Malícia
e então eis o quê de sentir-me qual folia
nascendo e renascendo no Frater dia
que me batiza como Cosmo m’ erguendo
para uma Existência jovem
eu sou o que é
sinto em mim
o que sou
um eu amorosamente
cantando o deus que o é
em cada gesto
palavra
o que sou
é o que deus é
permitam-me cantar a palavra
que me é alma e por ela sou
o que a vida foi será e é
ah um eu amorosamente
dizendo sou
é o que sinto respirando como jardim
gerando luz
treme a terra
que ela trema toda
e que as águas me sejam mortalha
levando minhas cinzas
pressinto as cinzas
de uma estrela talhada
no céu desta que treme toda
ah e como treme a terra
no coração palpita a alma sossegada
qual telúrica boda
altar que não sabe das pedras
o amor que dou é alma prostrada
que se derrama toda
e faz tremer a doce terra
natal
Ai, é hoje
que o Mundo está em Mim,
nest’Alma
flor sem Tempo
nem Espaço!
Espírito que s’ acalma
quando o Eu sente-se Mim
e o sempre é hoje!
Nas chamas d’Alma
que é o Natal em Mim
a Vida é hoje!
vero natal
a Estrada que temos a percorrer
é o fado d‘ Eternidade com bruma
que primeiro nos assusta
depois dá-nos Luz para ver
é certo que é uma busca
obriga-nos a Estar para Ser
e ter Fé para crer
faz-nos Natal a cada busca
solitariamente solidários
eis-nos partidários
do Eu que gera os pátrios
Luz que gera Amor em prazer
íntimo Fogo que rasga a bruma
da Ignorância e não nos chamusca
o Natal é a canção do vero Ser
mundo
Ai, o mundo em que vivemos
está perdido. É o que é
pelo que vale... um vale
de lágrimas!
Cristais d’ almas
perdidas em vale
poluído. E este é
o mundo em que vivemos!
autodestruição
Nesta redonda Terra que nos suporta o ego doido e idiota
poucos Seres suportam até a cor de que são feitos!
Oh, louca e bestial corrida...
Sentimo-nos amando e odiando, guerreiros
do Nada. Destruímos a Terra louvando o idiota!
raiz telúrica
é verdade que é raro mas quando encontramos em nós essa fundamental essência que nos faz cheirar tal e qual a Terra logo idealizamos a possibilidade do Paraíso porque é aí que a Humanidade se entrega àquilo que é e representa no Cosmo
e é bom vivermos o que somos
o nosso suor reflete como refletem as nossas lágrimas a quantidade de insignificância que somos em Vida por isso devemos saber conhecer o que é para nós o Cosmo
nós somos o natal em amor
1
amor
labareda
fogueira
calor
levamos nossas almas
na contra-mão da multidão
nós somos o público
no privado exercício do ser cidadão
e o somos em feito único
de vida e d’ ilusão
existimos pelo prazer uno
farta emoção
no bulir das almas
a cada natal eis-nos campo d’ amor
que vai gerar um ano novo
abraço de ternuras
beijo doce d’amor
2
a presença que nos concedemos
é um estar que se diz somos
tributo uno ao amor
à vida
a vida
que queremos por amor
e o somos
porque em liberdade concebemos
raízes
mulheres
flores
amores
prazeres
mulheres ai as mulheres
raiz
natal feliz
por elas sou um ser
estou
com elas aprendo a viver
e sou
ah eu sou
é o que dizemos
mas é melhor dizermos
eu vim
são as mulheres
os únicos seres que podem dizer-nos
eu sou
em prazer
amor
re-construindo flores
ah mulheres
Livro 3
Breves Tons d Espiritual Espectro
1
escorre-me
um pranto
águas elevadas onde o pensar
é luz e nelas faz girar
as cores enquanto
quedo-me
2
vejo que
na liberdade que sou
outros ainda são erva d estrada
eu cresci sou flor e sou mata
por isso me dou
assim que
3
há um som
algo em mim que diz
és o algo em si
não te percas ai de ti
não sei o que não fiz
ainda ouço o som
4
instante
oh química oh amor
quão breve é
estar e re-nascer
nesta fé caminho sem dor
estou caminhante
balada de nós
o cântico da Vida
é uma boléia
sempre que a partida
é um Idéia
temos os mundos
nas mãos
oh riscos fundos
que nos guiam quais estrelas
e somos chãos
e viramundos
nest Idéia
que é um ida
somos até boléia
da Vida
canção doce-amarga e tola
mas bem parida
universo (um)
tudo
tudo é o que sou
quando abro
os olhos e me dou
sombra da minha sombra
sei o que sou
quando me acho
e vivo e a todos dou
tudo
universo (dois)
vórtice
dum Alma que o é
sou pirâmide
nas linhas de uma Fé
tudo e nada eis-me Todo
meu nome não é Maomé
nem Jesus sou apenas Arte
de um Desejo que me é
vórtice
folclore
o prazer
é sair à rua e olhar o mundo
beijar a flor e dizer amor
o prazer
é saber que tem colibri no brasil
e não tem no portugal do doutor
o prazer
está nas rendas dos açores
que se fazem no brasil com fervor
o prazer penetra e vem d outro corpo
águas muitas na posse do sonhador
o nascer
é esse prazer que do barro sai boneco
e das telas e da madeira é imagem d amor
caminheiro
e mil tigres me saúdam na escuridão
enquanto o jacaré me dá o dorso
e pela amazônia chego ao mundo
e mil leões me aguardam na imensidão
do amanhecer quando lembro o tejo
refletido nas águas d oriente e m acostumo
à lição diária da descoberta sem rumo
que é saber d áfrica também e me achar colosso
e mil fados ecoando por mim em oração
brasil
pés nús e um farrapo pelo corpo
lá vai a nação armando mais um terreiro
em busca do graal que os filhos do luso ensinaram
pés nús e uma idéia e pinga a gosto
lá vai a nação orando n alquimia de juazeiro
e d aparecida que alguns enfeitaram
muitos são os pobres e mais os que se fartaram
nesta vila rica que foi ilha e ora é das cobiças o terreiro
pés nús a nação é um farrapo quase sem corpo
viagem
levaram o cacau
da bahia
como levaram a nau
à índia
os da índia
já sabiam d áfrica
além da china
e dos seus que costearam n áfrica
e quase chegaram
na península ibérica
a índia
viajou na nau
virou bahia
e pisou o cacau
o mundo sempre viajando
debaixo de um pau
marujos
soube que os de lá
portugueses
oraram oxalá
entre fezes e vezes
que ratos
comeram
longe da firme terra
e fizeram
dos trapos
novas bandeiras
nos leves
ventos de lá
portugueses
içaram cantos a oxalá
as gentes são uma expedição
e a religião coisa vã
viver com o eu
há dez grãos
de um Todo
nos vãos
de cada dedo
sei que bebo isso
dia após dia
e que nisso
vai se esgotando a mania
do Ser só
e um pouco d alegria
por cada dedo
de minhas mãos
há um Todo
e mil chãos
na ponte entre os possíveis
sou um punhado de grãos
Livro 4
mãe
1
flor
que é rosto
flor
que é jardim
flor
que é meu namoro
flor
meu querubim
flor
coisa d’ amor
2
canto
dentro de mim
canto
no olhar dos outros
canto
e escuto em mim
canto
em meus olhos
canto
o que me dá encanto
3
palavra
cheia de tudo
palavra
que é imagem
palavra
que nos faz fazer tudo
palavra
que é íntima viagem
palavra
poesia de divina lavra
4
que doce
me és em cada instante
que doce
dando ao mundo alegria
que doce
d’ amor transbordante
que doce
ma fazendo alquimia
que doce
palavra d’algodão doce
5
as folhas
caem no jardim que é o teu regaço
as folhas
lágrimas de dor e d’ alegria
as folhas
te fazem entre os teus o único espaço
as folhas
são teus amores quem diria
as folhas
poemas dos eus que afofas
6
vi além
a luz tão querida
vi além
o caminho que faltava
vi além
e senti a canção perdida
vi além
a vida irisada
vi além
um retorno à raiz do bem
7
já dizem de ti
quase tudo
já dizem de ti
quase nada
já dizem de ti
o foco maior do mundo
já dizem de ti
mulher amada
já dizem de ti
o que não queres ver em ti
8
vivemos a cor
cantando o teu nome
vivemos a cor
na vida que nos ofereces
vivemos a cor
e sempre pudemos saber-lhe o nome
vivemos a cor
que num instante nos favorece
vivemos a cor
porque és a luz primeira d’ amor
9
falar do ser
é estar sempre contigo
falar do ser
é imaginar o tempo
falar do ser
é um regresso ao umbigo
falar do ser
é dizer e ti ao tempo
falar do ser
é com o teu nome o mundo reescrever
10
oh alma
bendito que sinto
oh alma
que m’ encantas no sonho
oh alma
também avó no eterno riso
oh alma
da liberdade o grande encontro
oh alma
em que me fiz alma
palavra mãe
doce
é a palavra
quanta coisa e quanta verdade
nesta melodia
que como o amor purifica o coração
enche-o d’alegria
não sei quando te escutei
séculos se foram
vivemos o hoje carregando a luz
de olhos que n’alegria choram
mãe
é a palavra
Livro 5
Um Poeta Na Gandaia
poesia nas fragrâncias da vida simples
velha viola
A minha viola,
ó morena,
canta pra ocê a poesia nova
que o carteiro não entrega.
Não tem carta que mostre o amor
que sinto por ocê,
não tem carta que leve este fervor
até ocê!
Só a velha viola, ó morena, diz da poesia d’amor
que respiro por ocê!
Te quero tocar assim, morena,
como poesia nova.
Ó morena,
ó minha velha viola!
rio acima
No barco que me leva
rio acima,
encontro, antes da pesca,
a mulher que me anima
a lutar pela paixão.
É ela que, lavando no rio,
Me enche o coração
e me deixa com aquele friozinho...
Ai, meu amor, toco no cavaquinho
o calor da paixão!
És a mulher que me dá vida,
és quem eu quero levar pra pesca,
rio acima,
meu barco minha festa!
menina no banhado
No luar do banhado, menina
teus cabelos são um dizer
onde meus olhos dobram a esquina
que leva ao prazer.
Como é bom te encontrar
como um sonho.
Como é bom te amar
acordando em sonho.
Menina, que teus cabelos d’oiro sejam o luar
pra sempre em meu sonho!
Tanto é o prazer de ter você em minha vida
que te quero viver
no luar do banhado, menina!
o cavalo
Lá no cerrado,
altivo e brilhando,
corre veloz o cavalo
nossos olhos maravilhando.
É ele a estrela
das trilhas.
É ele a certeza
de todas as vidas.
Com ele se aprende a amar a natureza,
a cantar a vida!
Existe um além brilhando
no rastro do cavalo –
estrela iluminando
a rudeza do cerrado!
saudade
Moça, linda moça,
te quero tanto assim
que em meio à boiada que vai na trilha
tu és o meu único pensamento.
Na recordação do teu carinho
moça, linda moça,
o meu coração é um estouro que nem o cansaço alivia.
Só quero deixar o cavalo
e cair em teu olhar que me abraça...
Como é bom, como é gostoso
e é divino
te querer tanto assim.
Pra sempre assim
moça, linda moça!
amar
As águas do mar
são como azul do além
em teu doce e encantado olhar,
meu bem.
Em teu corpo encontro todas as ondas,
meu bem.
Somos uma ilha de paixões que a multidão desconhece
porque só dois corações o sabem
e o desejam!
Do trator que rasga a terra ao barco que sulca o mar
meu bem, nós somos o ir e vir
do amar.
Ai meu azul d’ além,
Minha estrela do amar!
festa brava
Há rosas
ali, na tábua do touro,
e um peão
levanta a capa.;
há pouco,
uma espada feriu de morte
o touro –
logo, duas orelhas e rabo,
e olé!
A aventura do novo
na arena.
Os olhos do velho senhor na
festa brava.
Ergam a taça,
ergam a vida, ergam tudo pela
festa brava!
mulher-rosa
Te escorre o perfume d’ amor,
minha rosa.
Essências de ardor,
oh meu amor!
Sei de mim em teus olhos,
perdido no abraço do teu corpo,
nos poros
que me fazem mil olhos!
Mergulhar em teus olhos,
minha rosa, é viver do amor tantos corpos...
Oh, meu amor,
essências de ardor
te fazem mulher-rosa.
És em mim o perfume d’ amor!
peão apaixonado
Tem arraial no meu coração
quando te encontro
lá na festa do peão.
Ai, és o meu querer,
cantiga de mim!
Te saúdo, mulher
com esta pinga que boto na poeira.
Te quero, mulher
como esta pinga d’alma em coceira!
Vem pra mim,
quero te merecer
qual benção pro melhor peão!
Quero o teu namoro,
ó arraial do meu coração!
alto da serra
tanto amor
tanto querer
oh meu bem
flor
meu amanhecer
tão verde
tão bonito assim
como do teu olhar verde
um eterno jardim
lá no alto da serra
oh meu bem
dancei na música do teu coração
me fiz emoção
oh meu bem
lá no alto da serra
leão de chácara
era uma beldade
aquela que ia buscar o leite
na porteira da velha chácara
ai era mel em leite
montava cheia de graça
uma magrela cor cinza
e eu aguardando cheio d’ esperança
a fragrância daquela moça linda
sempre me dizia Oi! aquela graça
e eu na porteira com a alma florida
seus olhos eram cor d’ azeite
como o verde da chácara
em silêncio era ela o meu deleite
ai minha beldade
estrada fora
o anel que recebi
é uma carta d’ amor
foi por ele que eu percebi
a força do amor
o anel que recebi
é um abraço de fervor
que me lembra de ti
a tremura em doce calor
não te percas na estrada que só pra ti
tenho olhos e amor
te segura amor
que só eu sei fazer de ti
um poema d’ amor
meu anel de rubi
brutus...
Ele não liga pra mais nada,
não vê ninguém e me esquece
...até em noite de baile!
Só ele é do seu gosto,
eu sou carta de outro naipe.
Como ele quer aquele brutus,
ai vida, meu caminhoneiro...
Como ele quer aquele brutus,
ai, deixa-me ser a tua boleia, caminhoneiro...
Não quero mais ser carta de outro naipe,
quero estar no teu abraço
na noite do baile.
Eu sou alguém que não te esquece,
alguém que te ama!
Oh, Caminhoneiro!
Eis que chegas
meu doce, meu queijo.
Ouvi o teu nome lá no bar
onde te encontrei, oh caminhoneiro...
Lá, onde espero o teu olhar.
Uai, uai, uai, na boleia do brutus
quero te namorar!
Uai, uai, uai, na boleia do brutus
quero aprender a amar!
Não sei quem és, mas sei do teu olhar
meu bem, oh caminhoneiro...
Todo o Sábado estou no bar
meu doce, meu queijo...
Uai, meu bem, que inda um dia me levas...!
ir ao mar
onda que vem
traz o suspiro da lua
onda que vai
leva a areia nua
quem vai ao mar
sabe que tem de ir
quem vai ao mar
não sabe se tem de vir
é um ir e vir
de marés e promessas d’ amar
como a areia sob a lua
na onda que vai
o pescador da minh’ alma nua
não sabe do mar que em mim tem
riacho
água pura ó água
e mais água
ih minha nossa
olho d’ água
vem da floresta
e corre cidade dentro
vales e vilas até ao mar
oh riacho que levas o meu amar
sou de ti a cada momento
venho do povo da floresta
amor d’ água
ih minha nossa
meu amor é como água
vive sem mágoa
sonho
no meu velho e amigo alazão
vou de lago em lago pra saber
em qual espelho
vou encontrar o reflexo da paixão
aquela que sempre sonho
a todo o instante vejo
tua imagem fugaz
e até hoje não fui capaz
de dizer ou saber se te tenho
vejo gente e mais gente no bar e na igreja
e gente no vilarejo e no trem
estou sempre vendo e entre tanta gente
só não encontro a tua imagem doce
que me faz sonhar dia e noite
e te busco em todos os espelhos d’ água
nos lagos da fazenda
já nem preciso puxar as rédeas do meu alazão companheiro
ele sabe o que procuro
e o que procuro não é toda a gente
o que procuro nem nome tem
é aquele eterno sonho de quem o amor almeja
taça d’ amor
sentir em mim esse cantar
quando te olho nos olhos
é ter em mim o teu ser
cântico d’ almas
um só corpo
como é bom beber a vida
na taça d’ amor
ai canção minha linda
silvestre flor
na cidade grande respiro em cada esquina
a lembrança das águas do prazer
riacho livre e fogoso alagando
em nós as pradarias da vida
e quando te encontro de novo e te olho assim
me sinto pantanal prenhe
da natureza toda qual ópera de todas as artes
e toco teu corpo como violeiro
em serenata após o estouro da boiada
em teu olhar me vou alagando
pra sermos dois no prazer
que é ter no coração a vida
ei saudade
a ternura que me atravessa
é como o vento nos campos
sei d’ eu respirando a tua imagem
mundo fora cantando de ti
a fragrância d’ amor
ei terna saudade
desse fundo olhar
ei terna saudade
desse suave respirar
não quero mais saber da solidão
que é estar longe de ti
quero o teu corpo no meu corpo
teus beijos aquecendo minh’ alma
como fogo de acampamento
primavera de mil cores
cheiros e luar
sensações de vôo pr’ além de nós
quero tocar a tu’ alma
estar no teu corpo
sentir de ti
o amor e o pão
Livro 6
O Belo
Na Erótica Percepção Do Que Somos
o instante é o ápice do espaço que se torna tempo e nele incorporamos a possibilidade de um sonho e por ele avançamos qual modelo em palco pelo deslumbramento de uma realização que é ao mesmo tempo uma conquista
acreditar
no que somos
sonhar
o que fomos
realizar
estar
precisamos ser o que somos
acreditar
a magia do instante em que descobrimos a beleza que transportamos e que é às vezes uma beleza fugaz ou uma beleza não revelada no corpo é o tempo revelado nesse espaço que ocupamos
no olhar o horizonte
eis que o mundo é testemunha
do ser que aprende a ser
o ser que está no prazer
sente-se sol e lua e terra e fuga
e encontro e fonte
aprendemos a fazer o tempo sob o olhar cósmico que nos alimenta o eu que é um espaço molecular e logo achámo-nos pelo bem ou pelo mal mas sempre tendo a beleza como linha comum
estética de vivências
plano e contra plano de sombras e luzes que nos fazem alguém em evidência ou alguém sem luz própria o que todos nós provamos em algum instante da vida porque a vida não é o pátio ou o palco para modas onde a nudez d’alma é tudo
o corpo
e quando o corpo passa a ondular
linhas e visões
eróticas percepções
profundas reações de um outro falar
o instante é um encontro
sublime encontro que nos preenche o sonhar de olhos abertos porque o corpo é um ele ou é um ela com alquímicos requebros a insinuar o próprio sonho
ritmo de divinas ondas
o corpo que somos é o testemunho das marcas das vivências que nos deram a terra como berço para nele aprendermos a dizer de nós mesmos fazendo dos outros corpos um talvez espelho do instante que alimentamos como sublime beleza
e o tempo não existe
como não existe o espaço
é a erótica percepção
é do nosso olhar a revolução
que faz do corpo o espaço
e o tempo onde a alma coexiste
beleza
orgia da sensação
beleza
cântico primeiro da revelação
pelo corpo sofremos o impacto de um sentir louco que nos conquista qual animal lançado pelas pradarias na demanda do imperceptível
um imperceptível chamado paixão que nos galga a alma como furiosa onda do mar para logo nos dizer docemente do amor e da paz
esse prazer de olhar e sentir a vida que outros animais nos ensinaram sem o saberem
o corpo
um belo estar na natureza
o corpo
o espelho da diferença
o corpo
diferença que em nós é beleza
o que é filosofia diante de um corpo? o que é um corpo diante da filosofia? o que sabemos de nós? sabemos que somos um corpo e um ritmo de vida que em cada cultura toma formas diferentes de estar mas que sob o olhar atento que vislumbra na estética sinaléticas outras é um corpo vário e um ser de diferentes níveis até na beleza
somos cor
raças
pensamentos
desejos
às vezes somos alianças
morte e muita dor
amor
andanças
nada e privilégios
olhares belos
danças
muita cor
e sempre a beleza do amor
ritmo e cor
desconhecer o prazer do instante do corpo enamorado é não viver é desconhecer o ritmo da cor que nos embala a beleza transpirada no corpo é não saber olhar o corpo que se diz no palco da vida porque nos desconhecemos
o corpo
o é pelo que somos
o corpo
dança na vivência
o corpo
é universo
reverso
é anti corpo
poema sem verso
alma sem esboço
prazer sem sexo
olhar oco
e quando o corpo é modelo no palco como na rua ou no salão como na igreja ou no café como no teatro ou no cinema e até no trabalho eis que ele diz de cada ser
cada ser é um corpo e uma alma
corpo é objeto sim
e sendo um ele ou um ela o corpo evidencia-se na sua transpiração sexual e animal
um ele ou um ela que se diz a outrém pela fala ou pelo gesto e quando o é pela magnética beleza torna-se o belo em evidência embora não como moeda de troca mas quase sempre sim uma fogueira onde a vaidade é chama que destrói daí que o corpo deva ser tido como tempo e espaço para a vida na sua amplidão sensual e sexual no luxurioso leito terrestre que o cosmo lhe oferece
amar
abraço de corpos
nudez de esforços
desejar
lúdico pensar
imenso olhar
sonhar
o mundo nos olhos
almas feitas corpos
ato de doar
o instante é o ápice do espaço que se torna tempo e quando esse instante é a visão de um corpo belo o ápice prolonga-se alma adentro qual poema surgido na aquarela de um pensamento ou no aguardo de um amor
os olhos
dizem o que somos
toques de mel
na fragrância íntima que propomos
gozos
amorosos
toques e embaraços
vez primeira ou não eis-nos sob fogosos
olhos
namoros
poemas alquímicos renovados fogos
corpo farnel
corpos abraços
gozos
no seu nascer para viver e morrer o corpo é um instante que deve ser vivificado com a alegria que o continuará na eternidade
espaço que é tempo por um instante o corpo o é na verdade de estar por um ser que nem sempre o merece