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Poesias-->Balada do Guerreiro Espiritual -- 04/10/2001 - 11:18 (João Barcellos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos






balada do guerreiro espiritual

I





1



Soube hoje que nada é igual ao Nada. Que o Caos

domina a perfeição aparente mostrando que o Todo belíssimo

é um sentir vário semeado pelo Eu.

Soube hoje que desse Nada re-surge o Tempo que,

sei, é a energia que irradiamos. Que irradio.

Vi muitos Outros na demanda da Luz como navio velho

sem rumo, Outros que não sabiam do pavio

e pensaram estar no Caos...

A demanda da Luz abre-nos o Corpo, dilata o Eu

por mais Nada que, por muito tempo, encontremos –

que afinal, não somos consciência do Nós no repente

do hilariante ir às sortes mercantis. Seremos e somos algo

daquele profundo Nada enquanto o sentir qu’ exalamos

não exprimir a divindade do Eu.

Soube hoje que as Horas não dizem a Verdade

e que o Tempo é só

o doce balançar das partículas do pó

que nos fazem sacos de Nada e do Todo, e só!

Eis a batalha da eterna Guerra que guerreamos...

O instinto é uma provisão da sobre-vivência

e nele o Amor perscruta-nos o Eu – e, quando diz m’ Eu

não é egoísmo: a Animalidade que somos,

primeiro, é que vulgarizou a palavra Amor,

dela faz instrumento do poder precário e não natural.

Ah, como é bom sentir n’ Outro olhar o Espírito doce

do imprevisível Caos...!



Batalhas tantas, pelo discernimento do Bem e do Mal,

fazem-nos ser, dia após dia, um Oráculo.

Soube hoje que o Universo é uma maresia de Cosmos

e que o Todo que persigo é o vário Eu que sou...

Soube hoje do m’ Eu e n’ Ele vi

além o inferior – a Animalidade – e nele a Guerra que guerreamos

para estarmos longe do superior Viver.

Por isso me quero cinzas na hora do Nada absoluto...

após o Amor. Ah, essa balada

do guerreiro espiritual...!

Soube hoje que a materialidade animalesca, já o disse,

é um saco onde o Nada e o Todo.





Soube hoje que é preciso ser Força, ser Energia, ser Amor,

contra as igrejas vis que dispensam o Amor

em troca dos Dinheiros que não as livram do temor

da Morte, pois em Vida não sabem da Verdade espiritual!

E é simples ser guerreiro do Belo,

estar vivificando os meios que somos dizendo olá

aos vastos Cosmos que carreamos no Caos dia após dia.





2



Escuto o Cântico que na fragrância

da Terra sabe-me a Vida.

Como que genuino Ser que trabalha

e do seu Mister s’entrega à demanda

da Revolução que lhe estufa o peito

e da vera aldeia que é se faz eleito

na convocação do Todo e mostra de outros a manha

e, aí, é Igreja autêntica contra a canalha

que vive dos outros a Vida –

logo, o Cântico que me veste de nova fragrância!



Não me falem em altares que neles a Intolerância

é lei, mas falem-me do Ser e da Alma vivida.

Não me falem da Alma perdida,

falem-me do Ser d’espiritual Tolerância!





3



Não sei quem somos,

talvez um pátio d’alegrias e choradeiras.;

ou nada disso.

E atuamos às vezes qual ouriço...

Não somos, não estamos nem existe percepção

nesto Ego que pátio comunitário é: nasce aí a tentação,

a espiritual Igreja é rebuliço

no meu olhar a Vida que atiço:

pó c’somico e pagão, percebo aí a Alma trepadeira

entre cosmos...



Não me digam o que somos,

deixem-me na Utopia de sentir a eira

onde o trigo sossega e sentar na beira

da Vida a interrogar o que fomos!











II





4



Viver é uma prece,

soube hoje.

Porque o Hoje é o Sempre e o Depois –

sim, e na ilusão de que pode(re)mos ser mais que os semelhantes

esquecemos que somos um cais, um sagrado cais

que ultrajamos ao não estendermos a Verdade a todos.

Sim, Nós fazemos o Tempo agitando as mil razões...

soube hoje,

ao banhar-me como íntima igreja, qual prece!





5



Há um sábio em cada Eu,

mas a magia que o fará Guerreiro virá do Amor

e, nesse toque, dirá: eis-me, Eu...!





joão barcellos

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