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Poesias-->Sem Título / Série Noite na Cidade (1993) -- 06/10/2001 - 01:10 (Arnaldo Akira Umeda) |
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Sexualidade poesia e contracultura
no 26° dp cultural
noite fria soprando nas esquinas anônimas
da cidade do desencanto
vejo meninos e meninas
espalhados em frente ao bar
carros motos rodas e rodas
um surrado álbum do cure rolando
alguém pergunta se é smiths
paisagem desolada
“meet me on the corner of nothing & nowhere
where in hell is that?”
jim foetus não sabia
mas tal lugar é aqui
e nem é tão hell assim
well well well
esta cidade é um pequeno paraíso
cidade santa
igrejinhas que se amontoam
todo bairro é uma paróquia
todo cidadão é um fiel
o papo corria trôpego entre goles de cerveja
entre aforismos ressentidos
e virulências bêbadas
e excrescências angelicais
há muito eu não conversava
com um desses anjos do roberto piva
conversa dura de coturnos amarelos
poesia entre cusparadas
e amontoava-se o trivial deste universo
sobre a mesinha de lata
glauco mattoso em foto característica
em affair skinhead
ts elliot rimbaud virginia woolf
nietszche cioran nomes desordenados
mas fronteiriços
o colega dizia odiar antropólogos
dizia-se vítima da rapina científica
de um perlongher
reivindicava a co-autoria do negócio do michê
ondas de ressentimento que se espraiavam
em direção a fry e mcrae mott e todos os outros
bravatas e mais bravatas entre cusparadas
punk
às vezes papo de lou reed
“hey man take a walk on the wild side”
mas
curiosamente
nunca “shiney shiney
shiney boots of leather”
ou “satellite of love”
ou “kill your sons”
sempre os clichês
também patti smith
horses
G-L-O-R-I-A gloria
naquele momento lembrei-me
de uma professora de estatística
pissing in the river
piss…
colega distribuía beijos a granel
com a abordagem objetiva de um michê
libidinosidade formatada
num produto dimensionado
para o mercado das afeições
as margens do social
o baixo-mundo
underground
bas-fond
é um depósito de ressentimentos
ódios ruminados entre os dentes
ali fala-se antes do centro do social
fala geradora de energia
instinto de sobrevivência
psicanálise de mesa de bar
almas encrencadas
colisões
desmanche
pedaços de existências
poética de avenida
engavetamento
mas também um certo charme
o discreto charme da contracultura
sexualidade aparentemente desenfreada
design agressivo
afrontamentos
noite com buracos & abismos
o colega falava como uma metralhadora
como o reitor da universidade
inútil cavar trincheiras em sua fala
seu discurso era todo um campo minado
sede & fome
de contrapor-se a tudo e a todos
ter à mão o controle das gaiolas
vigiar e punir
fala cansativa entediante
noite quase manhã
táxi na josé longo
o colega bêbado ainda crê que sou um cliente
pede-me cigarros
pede-me que edite os seus poemas
pede-me que o leve para passear
miséria
piedade que não tenho |
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