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Poesias-->Recanto Barroco -- 07/04/2000 - 01:34 (Alberto Nunes Lopes) |
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I
Não me tomes por um Don Juan de pó.
Faltam-me as bochechas rosadas, as pulgas,
O toucado, um belo nariz... saúde!
Não é este o destino que me fora reservado.
Sou um simples João e por isso "Juanito".
A política social mutilou-me com o chanfalho,
Deixo o eleitor, embora continue carne e osso
Da mesma sorte são os desejos e o pescoço.
Não prezo falar das lambisgóias adormecidas.
Compreendo melhor as doces garçonetes
Com os pêlos macios, lábios finos, solícitas.
(Com certeza o traseiro de um olho só!)
Ponho-me a usufruir delas mais este louvor:
A grama em volta da flor, o jardim...
Esquívo-me compartilhar da sucursal violência
Assumirei a loucura do mesmo grito: amor!
Neste rol não coube a moral, bem sei!
Apenas os escrevi com um imenso prazer.
Durante a noite quando estou nu, teso,
Invoco a receita do prato que vão comer.
Todos têm muita fome, necessidade.
Vivem perambulando na cidade,
Compram roupas - vestem saudade
E o pior: a surpresa da certeira idade!
Ninguém escapa, mesmo se for a igreja
Rezar, rezar para expulsar o demônio.
Quando chegar tua vez, do caralho entrar,
Te porás a gemer, a gritar as diabruras.
Melhor farias com toda essa frescura
Saciar os desejos que por medo ocultas.;
Mesmo se te assemelhares à gente fina:
Doce, inteligente, mulher simplesmente!
As vezes imagino a sorte da imperatriz,
O ardor que o veludo do trono esquenta.;
Acabo convencido da intuição da meretriz
Que agüenta o povo que se alimenta.
Queres as receitas do zodíaco?
Deixes murmurar a imaginação...
A virginiana não inicia a amar
Sem primeiro o cavalheiro beijar.
A geminiana gosta do "tree-way"
Se dona de casa falará de "três-em-um"
Sendo atriz sonhará com a "tri-star"
Todas encontrarão o inelutável prazer.
Deixar que metam devagarinho por detrás
Pela frente que o dedo atole na boceta
Ao mesmo tempo beijar, beijar...
Viver feliz, gozar, sutilmente!
Não emprestes a receita a tua melhor amiga
Não te enojes para que os outros percebam,
Se ainda não vistes coisa igual
Não te assustes se teu amado pedir o sal.
Da mulher é esta a fatalidade,
Algum dia ter que abrir as pernas
Em nome do amor, por força da paixão
Restando por testemunha o coração.
A virgindade não é objeto do passado,
Dela muito se pode aproveitar - regalo!
Admiro as santíssimas mesmo a distância,
Só não entendo porquê a dor-de-cabeça!
Na quietitude é que o mundo se transforma:
- Se falas muito... descobrirás o silêncio!
- Se és tímida... farás declarações em verso!
- Se és frágil... serás forte no teu desejo!
Saber trepar também é sabedoria.
Ninguém consegue improvisar.
Não é um repente, não é maquinação,
São todos aprendizes da mesma lição!
Acho que Catarina De Médice viveu nua.
Luz Del Fuego nas sombras da escuridão.
As vezes sinto-me escravo, certamente,
Nada é simples nesta meta ilusão.
Esse algo mais que a razão não provê
Essa melodia que nenhum poeta copia
Outros dizem ser sonho e fantasia...
A beleza do lago não emprenha a noiva!
A pele, a carne, o corpo, a fome,
Quanta sutileza para o espírito aprendiz.
Masturbar teu próprio ser - desperdício!
Entrega-te agora! Desnuda-te da miséria!
Caminhes solta, suspires.; se preciso sofras.;
Lança sem medo teu olhar para a escultura.
Rasga a tua roupa e abraça-te,
Os resultados do amor sempre demoram.
As bacantes viveram a embriaguez do vinho...
As modelos vivem da embriaguez do linho...
Toda nudez é incapiturável.
Todo sexo exposto é indefectível.
*
Os teus olhos fixam o fruto do prazer...
Doce música envolve o ambiente da alcova.
A boca transmitirá a saliva do verbo,
A língua ferina, serpente, convida...
Na dúvida, abraças... teu irmão!
Na dúvida, abraças... tua irmã!
Quando escolhes com teu abraço
Os demais pelas sombras passam...
Enfim, a quem tu preferes?
O silêncio não pode ser a indiferença,
Como o espelho que retrata qualquer um
Escondido em suas mágicas cicatrizes.
- O que dizer do beijo com uma só boca?
- No frio, qual lado do corpo ele deitará?
A aliança será o símbolo das mãos dadas,
O mesmo Dedo de Zeus, o mesmo Sexo.
*
Na via a matilha acompanha a cadela
Novamente tumefazer os teus seios
Fonte do leite e do mel, o abencerrage
Enlouquecido ao arrancar-lhe os olhos.
A noite sempre convidativa ameaça
E o perdão se agasalha por todo quarto.
Outros se escondem nos becos escuros...
Suspiram! Não dormem - gemem!
As mulheres de pernas tão compridas
Abrem-nas.; se caladas - imploram.
Os homens mostram suas bundas
Brancas, rosadas, por misericórdia.
Para não teres sono quando foderes
Deves corromper a tua honestidade.
Quando possível cobres palavras de ouro
Sendo tão tarde, não deixes que ele se vá.
Não feches os olhos se ele for apressado
Embora casado não lhes esconda as meias,
Não lhes diga as frases duas vezes
A não ser que ele esteja entalado.
Pois se te achas negociando a virgindade,
Não chupes teu dedo nesse momento.;
Nunca é tarde... talvez seja cedo...
Acolhas o gélido sêmen sem titubeio.
O crucifixo resplandecente no teu colo
O manterá devasso depois da ceia.
Todo homem gosta de ser o capeta
E toda mulher uma linda princesa.
Deixes que ele te dispa a calcinha
Do presente faz parte o belo invólucro.
Porém, não compres vestido toda semana
Nem tampouco esqueças de fazer a cama.
Deste prazer não há comparação melhor
Do que a de um bom carpinteiro:
Mesmo o pau sendo duro ele trabalha
E tu estás calçada com o travesseiro.
Não zombes destes versos, simples rimas,
Pois direi que as garçonetes que conheço
Sabem muito mais do que isso - são rainhas!
Daí, por elas, o meu feitiço!
Então suspeitas que eu também te desejo.
Estas curiosa para saber quem eu sou,
Te insinuas com as cortinas entreabertas,
Porém não me abres a porta. Não sou!
Quisera a hora dar-me o prazer da intimidade.
Deixastes sem querer a janela aberta? Bobagem!
Não posso transportar-me a não ser em pensamento,
Sorriste, gozaste, pelo momento na eternidade.
*
Depois de assistir tua intrépida cena
Dei-me conta da máscara bordada de lama negra
A escondi da luz nesta manhã de verão.
A noite não abandonara o rosto da minha alma.
O coito de um Júpiter precipitou este inferno
Tenho descido para a profundeza da imaginação
Em busca da minha tristeza, teu encantamento.
Zeus me cortará os lábios e a pomba!
Ah! Senhora da minha culpa...
A beleza era viva - a idéia uma curva
O tesão irradiava o crepúsculo
O olhar da águia que vê ao longe...
Ah! Senhora da minha culpa...
A donzela, a mulher, a puta, estulta
Entregava-se aos apelos, feito o cálix
Sobre o qual alguém se debruça...
Ah! Senhora da minha culpa...
Não era o pecado, nem o sofrimento
Apenas balouçava o mistério
Na estranha posição do firmamento...
Disse Zeus:
- Violastes a intimidade, roubaste energia,
O segredo queima teus ouvidos e renuncias.
Não podes querer estampar teu rosto no véu
Toma-te o poeta e cumpre o teu egoísmo.
- A fome e a cede de prazer recheie o teu pão,
Tua vontade, tua dor não passível de escambos,
Vai, pratica, corteja, implora...
Viverás o novo ser na cegueira da paixão!
- Aos grilhões da masturbação
Deverá vir um anjo socorrer-te na aurora.
- Aos grilhões do teu sonho
Ficarás preso às formas e suas curvas.
- Tu te tornarás um geófago!
*
Nas cálidas águas o rosto desaparece,
As pernas se alongam, os braços se articulam.
Ao longe as partes enigmáticas são anelos,
Movimento rouba suspiros, músculos estremecem.
O meu frágil coração se batesse solitário
No mesmo compasso da tua caminhada,
Ele não sofreria a agonia do pré-enfarte
Tampouco morderia a tua inocência.
O teu nome não sei. Como devo chamar-te?
Valéria, talvez! - Elaine, quem sabe!
As garçonetes são conhecidas no santo-ofício
Pela vantagem do predicado e suas delícias.
Rita - a insaciável. Tereza - a masoquista.
Stefanine, Magda, a Rosa de mil amores,
Carinhosa Márcia dos pentelhos dourados,
Sonhadoras Brunas com seus rubores.
Não ousaria escrever teu nome sem identidade
Tanto não me cabe escolher-te a profissão:
Jornalista, modelo, atriz, desempregada...
A poesia quis chamar-te simplesmente Amanda.
Tal a estudante do vestibular de janeiro
Ainda à pouco com a pele desbotada,
As ondas do mar te esperam na temporada
Independente que tenhas sido aprovada!
Na fina areia imprimirás teus passos
Bronzeando-te para o novo encontro,
Seguida nos olhares tímidos ou vorazes
A água não dará conta de tua inquietação.
Dentre os detalhes uma pinta se revela
Pensei que este segredo eu guardava comigo.
- Qual é mesmo o segredo de uma mulher,
Quando ao vento esvoaça os cabelos compridos?!
Não é medo, vergonha, os óculos escuros,
Não é fraqueza ter em companhia outra igual.
Pra que melhor? ... Proteger-se com as conchas
E deixar o traseiro lambendo de fora...
As mulheres, entretanto, têm cinco lados:
O primeiro para o sol.; o segundo, da amiga.;
O da frente e o detrás para os homens.;
E o quinto lado o do espelho!
Refletindo os olhos verdes, o sonho é colorido.;
Negros se forem, és uma paixão perdida...
Os olhos castanhos refletem noite e dia
As bem-aventuranças da tua agonia!
Mas, se és do tipo sedutor, pálida ninfeta
Jorro de sangue que o Júpiter bebeu,
Ressuscitastes mais pálida ainda - inspiração
Para que eu provasse o veneno da serpente.
Da imagem os pontos nas extremidades,
Consolar a loucura é perceber nos teus seios
Auréolas, cônicos, luzes no bico estrelar,
Endurecer, amolecer, enfim entorná-los.
Quando estiver com sede poder chupá-los,
Quando tardar a lembrança poder imaginá-los,
Esculpí-los com a mesma mão original
No êxtase e no excitamento!
O diabo que esconde-se entre a carne e a mó.;
A fome, pela fome do outro, cuspida e imolada,
Pobre sentimento que enfurna o açougueiro,
Jamais aceitará o festim da churrascaria.
Vede, o além entoar a zombaria, o escárnio,
Não entendem uma silhueta e uma melodia
Capaz de uma força nutriz calar a filosofia
Revelar o juiz num devasso cliente!
Vede, quando fazemos silêncio profundo
As mortalhas ensaiam seus clamores
E tentam agarrar no escuro seus horrores:
Sanduíches azedos de mostarda e pimenta!
*
Espera um momento... - Quem se aproxima?
- Sou a beleza que se aninha solitária.
- Sou a incerteza, alimária do presente.
- Sou eu? Reconheces? Sou a madrugada!
Vim cobrir-te com a capa do sono esquálido
Borrar com o orvalho o dizer desvairado
Reduzir à tinta e papel o anjo barroco
Pospor a posologia da tua liberdade:
"Infelizes os que continuam apressados
Sequer desperdiçar o olhar para o lado,
Toda aparência é frontal, o minuto fatal,
Somente se descobrirão depois dos afazeres."
II
Florianópolis é VERÃO
Verão 1996 é o MAR...
COMIDA À KILO
...não coma a camisinha!
E o VERSO 69?
...é o silêncio do grito!
É a ILHA... fito!
Não te demores...vá!
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