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Poesias-->Um Poema Arrogante -- 13/11/2001 - 01:21 (Carlos Santos Lacerda) |
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Hoje eu tenho quase alguns anos.
Quanto tempo me segue pelas costas
Acho que vivi bem
Tenho tudo
E de nada do que não tenho
Tudo sempre serei
Sou o mais absoluto ser de mim mesmo
Nas águas que caem no palácio que cerca
Até os ouros me sorriem
Tudo me sorri
Mas é claro, eu sou o senhor destas águas
Vivi o que podia e o que não podia eu vivi também
Experimentei cada gosto
Senti cada aroma
Toquei cada textura
De tudo um pouco um tive
Pouco, nunca foi a palavra exata para definir o meu querer
Eu quis tudo e tudo tenho
Quando a morte chegar
Agradecerei
Sendo ela a única que ainda não vi
Cada ato foi planejado como um enredo cansado
Para cada palavra, tive uma resposta
Para cada gesto, uma virada
Para cada um, um personagem
E assim, eu os fiz
Criei seres que até hoje me acompanham
Matei criaturas que me desdém até o fim
Formei conceitos, teorias, práticas, regras
Achei respostas convenientes
Achei a minha resposta
Neste dia que persegue
Até ao ar pude exigir meus caprichos
Não quero vento
Não quero chuva
Não quero sol
Quero uma luminosidade sobre meu ser para que não pare de brilhar
Estou indo
Para onde?
Para o fim
Fim de tudo
Fim da vida
Não há mais nada para comprar
Não há mais lugar para visitar
Não mais quem conhecer
Qual a graça de viver sem nada para ver?
Ah sim, eu vi tudo
Nem tudo foi o suficiente
Mas para todos o meu insuficiente é utópico
Me dá vontade de rir
Gargalhar
Como foi bom
Ver cada olhar aflito orgulhar-se de cada ato alheio
Meu
Vou indo
Adeus terra
Adeus gritos
Adeus ar
Adeus
Da música vou levar cada tom
Ah sim
A música foi primordial
Ela me cantou aos quatro cantos da existência
Me fez sorrir e ganir
Com ela senti as sensações que poucos conseguem sentir
Como sou afortunado!
Das pessoas levo o sorriso
Sorrisos verdadeiros e os de plástico
Aqueles que comprei fui deixando pelo caminho
Mas também ganhei alguns
E destes me apeguei e comigo levarei
Das noites levo a escuridão
Nela me achei quando de mim me perdia sempre
O silêncio que me dizia exatamente o que ser
Aliás, esta sim, nunca precisei exigir nada
Ela me ofereceu a cada dia uma nova vida
Poderia ficar horas falando sobre a noite
Mas não farei isso
Não quero dar-lhe maior valor do que merece
Assim sou
É chegada a hora
Vou indo
Deixo algumas coisas
Muito embora acho que não deveria deixar nada
Mas se Deus quis assim
Assim o farei
Quem sou eu para discordar Dele?
Ah
Não responderei
Quero ser ao menos nesta hora
Algo que nunca pude ser
Tenho que ir logo
Antes que da ofensa se transforme minhas definições a Deus
Parar de viver para não mais pensar
Adeus a todos
Adeus
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