Esquecida do mundo, sem o “glamour” dos grandes conflitos que vendem manchetes e mobilizam emções, Angola segue o triste destino do esquecimento em meio a a uma guerra que não tem fim, e que já plantou mais de doze milhões de minas nos lugares onde crianças brincam. De um lado a UNITA, composta por guerrilheiros que tentam dominar o país há décadas, e de outro o governo, que tenta se manter no poder a qualquer custo. No meio dessas duas forças está um solo riquíssimo em diamantes e um dos maiores lençóis de petróleo que se conhece. Ambos, reconhecidamente os maiores ícones da riqueza humana, embora extraídos à exaustão, não têm peso algum para a melhoria de vida de uma população paupérrima que vive em casas feitas de capim, desnutrida, miserável e doente. Enquanto o mundo lhe volta as costas, crianças perambulam como zumbis, com olhos baços pela desnutrição, sem ter mais lágrimas nos olhos para chorar, ou forças para faze-lo. Eis o que vi, um dia, ao olhar diretamente dentro dos olhos de algumas dessas crianças. Adentrei às suas almas e perturba-me ainda o que vi lá dentro: Clamores de agonia, súplicas silenciosas por piedade, que gotejaram incandescentes sobre minha vergonha, porpertencer aos que nada fazem. Gritos silenciosos de socorro, proferidas em nosso próprio idioma.