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Poesias-->PŽriplo -- 28/11/2001 - 12:26 (Jo‹o JosŽ de Melo Franco) |
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ATHENA, PçLIDA DEUSA
Athena, p‡lida deusa,
recusei-te os bronzes dÔarmadura e c‰ndidos olhos
pela idŽia de Ulisses, — fundador amoroso e familiar,
que pela fam’lia navegou desde a desgraada Tr—ia
e inaugurou --- l‡ onde cantavam sereias ---
o rito que transforma o her—i em pai, o homem em deus.
î penŽlopes, eternas tecel‹s!
î telmacos, fura-diques do humano tempo!
Athena, p‡lida deusa, vem nessa manh‹ tropical
assentir em meu peito atl‰ntico
o clamor de um guerreiro
que, sem fam’lia nem mesmo tr‡gica sereia,
perde agora o sentido dos pŽriplos
na misŽrrima aventura de sem-deuses ser.
ESCARRO
passei noites em claro
vi rostos custavam caro
rolei sementes nos assoalhos
inœmeras pistas de dana
caiam pela manh‹ cabelos grisalhos
tintos, ardentes e suados
mas eram v‹s as can›es
na garganta e o cigarro
o sol, tosse, escarro
escarro, escarro
O JARDIM DE ALç
No jardim de Al‡ o anci‹o ouve o silncio.
Cinco vezes ao dia... ora para Meca.
Ës vezes pousa o olhar em lindas odaliscas nuas,
que danam em torno ˆ fonte prateada.
No jardim de Al‡ os frutos da figueira est‹o sempre maduros.
Rijo, o pensamento vai da cidade sagrada
ˆ sombra do salgueiro.
Ali est‹o, em repouso, as doces odaliscas.
As redes em balano eterno adornam o vento
e o sol afia a l‰mina do punhal.
Cinco vezes ao dia... o jardim de Al‡ vai a Meca
e os dem™nios, que tambŽm s‹o muitos, voltam em intervalos.
A FOME
Quando sa’ a chuva ca’a, o vento soprava,
estava escuro.
Caminhei ao futuro t‹o pr—ximo nos
minutos...
Alcei quatro pensamentos exemplares:
fugir para Macau
escrever carta dizendo tudo o que sinto
trabalhar numa pedreira
amar somente prostitutas.
Mas respondeu: ÒN‹o!Ó.
Quando retornei a chuva ainda caia,
o vento ainda soprava,
ainda estava escuro.
Caminhei lentamente ao passado long’nquo
e me perdi num mar de lamas.
Alcei quatro pensamentos sombrios:
demarcar as fronteiras de si-mesmo
conhecer melhor femininos
buscar ao menos uma realiza‹o pessoal
nada comprar que n‹o necessite.
E respondeu: ÒBom apetite!Ó
RIMA
gente rima com ente
ignor‰ncia rima com jact‰ncia
amor rima com deus
casa rima com asa
cŽu rima com vŽu
amor rima com deus
palavra rima com lavra
anzol rima com sol
amor rima com deus
filho rima com milho
espinho rima com linho
amor rima com deus
sorte rima com morte
p— rima com J—
amor rima com deus
CANTIGA DE AMAR
Onde dormem estrelas
n‹o apacienta meus sonhos
saber se Ž l‡ o porto prometido da paz
As nuvens passam com os dias:
ins™nias durante a noite e a impossibilidade de amar...
adiam para’sos, l‡, alŽm do teto nublado,
e aqui, onde o sol s— se p›e para os ricos
Os cabelos claros, os olhos escuros: p‡ssaro futuro
fugindo sem parar
No correr dessa viagem
o animal simb—lico em que nos transformamos
ruge feroz, no entanto Ž triste
Em todas as lutas pensa que vai tocar
a parede do perd‹o,
l‡ onde deve estar inscrito o teu nome junto com o verbo amar
Mas o sono n‹o vem, irm‹o, nem o fim do sonho
O poss’vel n‹o nasce nos campos como o arroz
nem Ž gr‹o com que se possa alimentar
Contudo, resta sempre a mesma palavra
boiando no claro-escuro desses dias
Solit‡rio signo, persiste em um sentido e nome,
vaga sem forma, sem norma,
sem lugar
O nome desse pŽriplo:
absurdo o verbo amar.
POEMA DE DOMINGO
Eu penso que Ž domingo
Eu penso que ela se esconde
Eu penso que ela n‹o est‡ ao sol
Eu penso que ela coloca um vŽu sobre o rosto
Seu rosto Ž bonito
Eu penso que a beleza Ž um c‰ntaro quebrado
de onde vaza a ‡gua da vida
Eu penso que a vida, ˆs vezes, Ž uma raz‹o feminina
Penso que deveria ter mandado flores,
que deveria ter enviado telegramas insistentes
e bilhetes escandalosos... talvez n‹o
Talvez servisse apenas para fazer com que ela retomasse
o caminho de sua vida,
o ego mais firme e valorizado
Mas, nada mais desagrad‡vel que ser œtil, apenas
Apenas penso, penso que Ž domingo, penso que o sol descreve
um funeral poŽtico por tr‡s das casas brancas
e dos altos edif’cios, ao longe.
FOI-SE O DIA NUBLADO
Foi-se o dia nublado e j‡ n‹o me recordo mais.
Foi-se a voz feminina, misturada
com as nuvens cinzentas...
A fruta apodrecida j‡ vai comida por dentro
e sua agonia n‹o termina
AtŽ que tudo vire alimento.
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