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Poesias-->POEMA DA RESSURREIÇÃO -- 04/12/2001 - 15:46 (Lia Santos) |
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Olha pra mim
Estes hematomas tão bem desenhados são a prova da tua intolerância
Este corpo pisado mergulhado em angústia é conseqüência da tua omissão
Esta vida sem nome, vil e repudiada, é fruto da tua irresponsabilidade
Mas eu não te culpo, mãe
Por mais que isto seja verdade
Agora, aqui neste chão observando estes ratos
Correndo sobre meu rosto e roendo meus sapatos
Só me resta pedir perdão
E eu que sempre te odiei
Descubro, insanamente, que foi um ódio vão
Eu frustrei suas expectativas
Sobrevivi ao desespero das suas tentativas
De assassinato
Resisti a seu concubinato
Não devia ter me ajoelhado e implorado para ficar ao seu lado
Hoje eu sei que seria melhor se você tivesse me abandonado
Como você queria
Que grande desperdício
Suportar teu egoísmo
Enfrentar o teu vício
Apostar no altruísmo
Da tua falta de amor
Toda força que eu adquiri
Você me ofertou com a dor
Toda vez que sangrava eu me lembrava
Tua imagem borrada, cambaleante
Tua sombra torturante que com rancor me marcava
Quando você se foi eu chorei
E me martirizei com minhas lágrimas de alegria
Eu que era carta marcada
Do teu vômito cego de fúria e covardia
Ira e crueldade
Sobre o teu túmulo eu dancei
Festejando minha liberdade
Eu te perdôo, mãe
Teu corpo ensangüentado não me trouxe sofrimento
Só a branca arma rubra gotejando em minhas mãos
Me atirando no confinamento
Sua vida no fio da minha navalha
Nada que valha
Nada de mais
Atrás das grades, sem você, eu tive paz
Meus pesadelos em holocausto eram o suplício
Que eu oferecia a você em sacrifício
E eu tive paz
E agora tudo é frio
Agonizando este torpe arrepio
Jogada em algum canto
Com esta faca cravada no peito
Eu peço perdão
Lhe oferto meu respeito
E choro novamente
Choro o amor que senti falta de repente
Choro as vidas desperdiçadas
E nossas mentes doentes
Minha missão
São estas lágrimas como última oração
É o meu medo o meu beijo de redenção
Meu corpo aberto pela incompreensão
Te encontro mãe
Em algum lugar desta minha longa excursão.
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