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Poesias-->DISCRETO RETRAIMENTO -- 16/12/2001 - 12:30 (Humberto Bley Menezes)
DISCRETO RETRAIMENTO Humberto Bley Menezes Se bem me lembro E não lembro bem. (Dizem que sou ameba, Uma amnésia personificada). Sou esquecido Das coisas doces e azedas E das amargas e doloridas, também. Lembro vagamente. Dos passos surdos, Das calçadas mijadas, E vomitadas Das madrugadas. Voltar sozinho, Frio desgraçado, Cigarro molhado, Chuvisco encardido, Fábrica de tuberculosos. Todos os andantes da noite Encharcados de cachaça E de melancolia, Distraídos dos paralelepípedos De ponta para cima, curiosos, Zombeteiros, Derrubando bêbados e Velhinhas pungentes A caminho da primeira missa. Se bem me lembro, E não lembro bem. Existem prazeres Nas mesas de canto, No primeiro copo, Na primeira frase, Na tirada genial Que anotei no guardanapo, Que borrado de mostarda Ficou em cima da mesa. Persistir na noite Despojado de genialidade Esquecido da repartição. Poeta que busca remédio Para as coisas Do coração. Que o vai matar. Depois do fígado. Ou do câncer de pulmão. Boa noite, poeta. Bom sono, poeta. Descansa guerreiro Seus versos perdidos Nas mesas dos bares Nas latas de lixo No sutiã de uma amiga, Foram libertos afinal. Vagueiam no espaço Redimem um pouco A mediocridade Dos inocentes. Que dormem o sono justo Abraçados aos travesseiros Fofinhos de conformismo. Tentei evitar pisar na merda de cachorro o no vômito dos bêbados. Um chiclete mascado, grudado ao meu sapato, carrega outro guardanapo boêmio pelas calçadas de Curitiba,.testemunha de meus tropeços. Meu nariz empinado rompendo a geada, altivo, rumo ao colo da amada, encontra o assaltante que humilha, rouba o poema, deixa o dinheiro e leva o violão. Amanhã racionalizo. Por ora quero acabar o poema, driblar meus fantasmas e dormir.. Contacto: hbm120147@ig.com.br