Era quase certa a minha vez de caminhar. A burocracia da instituição desvencilhada, tudo girava fácil, somente a autorização do diretor e a arquivamento dos papéis. Meu pensamento ofegava ansioso com o contato, restituindo a vida. Tudo
pertencia ao novo, logo, muito logo. Só restava o bloqueio gélido das muralhas a impedir o sopro morno e real dos ventos. Isso produzia um pouco sem importância
Em mim, tudo crescia numa poderosa energia, mordia os lábios escondendo o sorriso irradiado. Por pouco não escorria pelos olhos, na sola dos sapatos...
Se morri, não tenho certeza. A liberação nunca veio. As cobaias estudadas produziam efeitos. Havia uma irrelevância essencial em devolvê-las à comunidade, tamanha a importância das pesquisas científicas. Servindo-se da alma de alguns na melhoria de qualidade de vida de todos, seríamos grandes heróis na arquitetura da criação. Se não foi em nós moldadas o sentido coerente da vida, não merecíamos vivê-la. E assim se consuma exatamente trinta anos de existência, sem um modo correto de se traduzir. O sentimento cada vez mais conseqüente da absorção de um rascunho despropositado e rasurado em folhas brancas.
Ninguém nunca saberá com nitidez o que vivi, onde, como, e se resisti à insanidade. Só se compreende na imensidão dessa fortaleza, que o descuido
mesmo por alguns instantes capta o melhor da alma. A serenidade cúmplice dessas solidões a se abraçar, são pontos incandescentes de gestos neutros, como um compasso a cada gesto, destoante, uma harmônica do olhar geral em um novo jeito...