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Poesias-->Sôfrego da Morte -- 19/04/2000 - 06:47 (Cláudio Alcântara) |
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A noite caminhava lentamente em meu coração.
Meus olhos, bêbados, eram neons desbotados,
Vislumbrando um céu triste que até parecia morto.
Mas já, àquela hora, minha felicidade havia partido,
Deixando em seu rastro um rasgo de solidão.
Chovia lá fora no mundo. Um mundo frio. Eu, gélido.
O vento, também frio, carregava consigo um resto de sonho.
Aquela paisagem bucólica agradava minha desesperança.
E minha face, flácida, tremia de desespero,
Mania comum em quem se deu como derrotado pela vida,
Em quem seguiu cegamente suas paixões.
Esperava sob a copa da árvore velha o final da minha morte.
Suicidava-me a cada nascer de dia.
Aliás, não havia dias diferentes, eram todos um só, angustiantes.
Minh alma há muito se fora de mim,
Sequer quis habitar as estrelas, odiava meus olhos.
Mas ali estava eu e minhas desventuras,
Solitários, jamais solidários, odiavamo-nos,
Apenas compartilhávamos o mesmo cálice de cicuta.
Morríamos deliberadamente juntos.
Não podíamos precisar quantas mortes teríamos antes do amanhecer,
Embora o sol não quisesse saber de nossas mortes.
Porém, algoz da noite, teimava em acender o mundo todas as manhãs
E eu o odiava por isso.
Custava ao sol dormir um pouco mais?
Esquecer de acordar o dia?
Entretanto, o idiota me provocava,
Gostava de fazer as crianças rirem,
Sentia prazer em ouvir o grito do jornaleiro,
A buzina atonal do padeiro.
Foi quando vi que eu havia morrido definitivamente
E que apenas meus pobres olhos desorientados
Se angustiavam sob a copa da árvore velha.
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