LEGENDAS
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Poesias-->Auroras -- 27/01/2002 - 12:41 (werton costa)
FLOR NO CABELO Há uma flor no teu cabelo Um cheiro leve encanta Um ar de felicidade o envolve, Já não é o mesmo Com aquelas tranças Que movem, dançam e fogem A cada desejo Sopro de vento, Que sussurro num beijo Em sentimentos Por entre os fios Até chegar ao teu ouvido Quebrando o silêncio E anunciando de repente Para a flor Um atrevido pensamento De amor. VINGANÇA DE VENTILADOR A rotação das pétalas Fazem a miragem do vento, Fogem pelas frestas Aclimatando o tempo O aparente odor das celas Zoando, Levando, Tremendo, As páginas amarelas. Os rascunhos pulam Pelas janelas Afogam, Saturam, Inundam, As sarjetas das ruelas. Entre a lama desfiguram Sucumbindo O equilíbrio suave da aquarela. FIM DE TARDE Fechadas as janelas Só resta a fachada O intervalo da fresta Onde escapa E desenha nas celas Um breve contorno de máscaras Negras e amarelas. Uma lâmina de sol espalha Na alcova mórbida, Velha, Minúsculos grãos de palha Flutuando pela órfã réstia Como se ensinuasse uma valsa Trajada de cristais, Bela! No deslize do ar...fumaça. BORBOLETAS DE DEZEMBRO Circulando Voam hipnotizadas Sob o efeito da luz Cinzentas borboletas De dezembro. Num transe elíptico Um trânsito errante Afrodisíaco Das acesas. Migram pálidas Intercruzando órbitas Projetando sombras Naquela margem de inverno, Do seu minúsculo universo De sonâmbulas A colidir com o belo Foco das lâmpadas. GOTAS Uma gota cai A neblina sobe, Naquela centelha Um véu de fumaça Foge E beija O teto solar O rubro semicírculo Das telhas. A PALMEIRA Sob o vento As palmas às palmas O movimento Do ar entre as palhas, Sobre a terra Um vivo monumento Em permanente guerra Contra o tempo. Mas o machado e o fogo O consomem: Sobra um tosto “ toco” Fica um fosco homem. Quem dera cair uma chuva Pra carregar as cinzas Afastar a penumbra E polir o homem opaco, Só assim a raiz profunda Alça vôo do fosso Em outra centelha, Mostra a face do broto Anunciando palmeira. POBRE ÍCARO Tive um sonho: Eram meninos alçando vôo Como passarinhos, Repentinamente pombos De mansinho Na tocaia Apontavam para os pequeninos Suas armas... Ouve-se um estrondo Eram tiros, Em um tombo Caem feridos Os meninos-alados Tontos Mutilados e paralíticos. Tive um sonho Parecia real, Eram pássaros fugindo De um outro animal, Os mesmos meninos Com suas atiradeiras, Na mira: passarinhos! O poema panfleto Vai à rua, A via devora o penetra Traça a rusga A contenda Com o poeta. O poema panfleto Vai ao povo A cata de desculpas, A rua pode ser ríspida Mas está nua E anseia por vida, A rua é um corpo Em fuga Basta um sopro de poesia Para sentir seu fogo Sua loucura. METÁFORA Do limbo surge a metáfora A mente abre-se E flui Em espirais As idéias, Faz surgir do nada O mar revolto Para uma nau sem rumo Que de um ponto a outro Busca O porto-seguro Além da tempestade. Nas ruas... O guerreiro da vassoura Varre as mentes Cheias de desdém E preconceito. Oculta em sua frágil pessoa Além da carga de humildade O surrado e esquecido DIPLOMA Da universidade. Gladiadores de rua: Meninos, Meninas, Drogados E prostituídos Na arena de combate, Sem pão Nem circo Apenas o círculo vicioso Da ilusão. A Poesia É uma via Em mão-dupla, Uma em direção À mente Outra Às estrelas. FRACTAIS “Ante ao brilho de mil sóis” Repousam Dois girassóis. Ante a morte da esperança Reforçam O esperanto Nos laços Elos Abraços, Muito além dos paralelos Muito próximo dos passos Tropicais Daqueles velhos carnavais. QUANDO VOCÊ CRESCER Nos espelhos A ilusão brinca Quando os olhos drogam-se, O ego trinca Afogam-se os desejos E esperanças. Nos vitrais entreolham-se Uma porção de crianças Cada qual com o seu transe E sonho De serem um dia Importantes. OUTROS 500 Lançaram naus Pelo mar revolto Avançaram mortos Sobre o outro. O outro está morto! E no combate de seta e fogo De flecha e corpo... O outro do além-mar Não reconhece o outro Do mundo novo. Não se pode desprezar O valor de uma atenção, Mesmo que não seja aplauso Ou riso, Um olhar maravilhado Em brilho É um verdadeiro eldorado Ao circo De qualquer coração. Do micro ao macro As palavras moldam Incomodam E transmitem no ar dos hálitos Sentidos, No reconstruir dos hábitos Signos Traduzidos em uma poesia. FAVELA Vista de fora Ou de dentro Uma parte, Além das janelas A paisagem Se insurge Incompleta, A áspera E rude FAVELA Pede passagem. Não se ilude Nem nega Que a cada “viagem” Será mais cela Sombra E terra. O VENTO Grãos de poeira Que seguem alucinados No ritmo dos ares, Fazem da Terra Seu canto, Seu leito, Seu manto.; Seus feitos São tantos, São perfeitos: Transformam as rochas Dotando-as de formas Às vezes estranhas E de tamanha beleza Num capricho Cíclico e harmônico Da natureza. O INCÊNDIO As chamas rabiscam no ar Uma onda de calor, Uma nuvem escura Frutifica nas mentes turvas Gritos de dor, Quando a floresta agoniza E a morte enraíza Na vil ausência da cor. As chamas não chamam a vida Não chamam o amor E há no solo centelhas Num rastro destruidor, Para além das labaredas Um vento corta as veredas E anuncia as incertezas Quanto aos últimos sopros Da natureza. A paisagem Naquela aquarela Repousam cores Cada qual em sua cela, Cores mortas Cores vivas Cores quentes Frias, Carregadas de tons diferentes Misturas criativas Foscas ou reluzentes. Naquela aquarela nascem mundos Cada qual com forma Com seus personagens, Muitos inteiramente novos E únicos, Alguns uma viagem Outros uma miragem, Todavia uma paisagem Num constante amanhecer. “BLOCOS DE MONTAR” Dormem na cama do mundo As crianças Que envelheceram Sob a dinâmica das máquinas, O lucro que trás o sono profundo E atropela esperanças Abrindo as chagas da insensibilidade. Dormem E não conseguem acordar Não encontram a própria alma A felicidade A tanto tempo perdidas Em algum canto de fábrica. VOLÁTIL Quanto mais noite Mais trânsito, Mais devaneios, No subconsciente: mercados Que alucinam Com transações que de um lado Criam Por outro são criados À semelhança de si mesmas, Surgem avulsas e caladas As incertezas Mas partem noturnas em retirada Antes que amanheça. CARTESIANAS O silêncio da noite É rompido, Cada vez mais forte E longe Surge um ruído, O som ondulante Das engrenagens Do relógio. Vai no seu tic-tac Tracejar uns momentos Orquestrar um ritmo Que vai perecendo A cada novo giro: É o dia amanhecendo Marcando o início De um outro ciclo. Tecendo, Fluindo, Sorvendo, Segue repetindo o relógio Em sua valsa de tempos. A NUVEM Olha a nuvem Bailando no azul Sob a valsa dos ventos, Passeando no céu Além do véu Do tempo.; A nuvem floco Nuvem ilha, Grande mancha branca fora de foco Naquele passo de milhas. Olha a nuvem Nebulosa Guardiã de chuvas, Faceira e esponjosa Cheia de curvas Vai de mala e cuia À roça Matar tua gula, Faz da poça O poço De novas culturas. O poeta está Dentro de você Liberte-o “ solte – se” Viva e deixe viver Uma poesia. O poeta é Você, É a sua fantasia. Tente Busque, Faça e deixe-o fazer Uma poesia. Aos martelos De Élio Um raio de sol, Um sopro na forja BRASA! Um transpirar de foles Arrasa E funde A cuca dos esnobes, Sob a rubra incandescente Espada de ferro Dos fetos negros-pobres Feitos no fogo de versos nobres. A capivara vara A serra Serra a mata branca, O calcário brota Da árida terra E escapa da grota Aberta Com seu cheiro fóssil A ferra rupestre Que anuncia A nova rota do homem Americano. PÊSSEGOS Os pêssegos estão maduros A colheita é farta, Adocicados seguem duros Para a mão que os afaga, Geométricos, belos e puros Sob a boca que lhes abrem chagas O sulco vital para o “suco” O sabor virtual que encarna O prazer total da árvore Em um leve toque das lavras Para um breve Mas vigoroso encontro de palmas. I Das páginas do tempo Salta Como um cavaleiro do ontem Abre Os caminhos do agora Num ato irrisório e passageiro De um contador de histórias. Fala Pela “boca do mundo” E seu hálito o deflora Passa Dos limites mais obscuros Até os feixes da aurora Procura Antes de tudo Respostas. II Em branco e preto Ele sai Com aquele tom xadrez de sempre Procurando O equilíbrio O contraste Naquela sensação dual De ser minguante Em um universo crescente. Em preto e branco Vaga misto Expondo as faces humanas, Um delírio? Sim... Como uma fresta de noite na manhã Deixando fluir a luz Da lua Ou das estrelas Que ensistem em brilhar Avidamente No olhar das crianças. A sociedade (anônima) Tem pressa O tempo é refém Da ditadura dos relógios de...ponto! O homem vira a engrenagem Da máquina do progresso Para que uma mão invisível E insensível Em um complexo retrocesso Roube-lhe também a vida. Entre a casa e a rua Uma praça Com encontros e desencontros, Trânsito errante Em passeata, Gente pelo avesso Em protesto, Há aplausos e vaias Para anônimos que passam E que ficam Pelas calçadas. Volátil Diante da fome e do caos social, Cuidado! Perigo! Alerta a fina flor da sociedade, Homens à solta... Segurança, insegurança, segurança, in segurança! Feras na rua E cenas de combate, Apagam o incêndio Afagam o silêncio: Fim de protesto... Estranhos Os estranhos Cruzam a rua Entre - olham-se Não entendem a linguagem Dos passos mecânicos Ríspidos Do silêncio tirânico Cínico E do franzir de faces, Correm frágeis Vazios, Inconstantes, Seguem desconhecidos Anônimos E distantes Do outro que consideram estranho, Negando a todo o instante A possibilidade fantástica do encontro. A pipa Faz espirais Rodopia Num rasante Sobre as cabeças Cria Um surto de alegria, Perde-se entre a correnteza Dos ventos Gira Gira Gira Gira É um ícone no céu Tecendo, Estica ao longe o cordão Dá margem ao cerol Caça em vão Uma liberdade E um raio de sol. O CIO DOS GATOS Os gatos rasgam a noite Em transe O silêncio é rompido Além dos telhados, Uma sinfonia de gemidos Traduz a transação dos gametas O descontrole de natalidade é mantido E uma orquestra grotesca Embala o rito Que cruza A via da natureza. CANTIGA Vi um pássaro cantor Na janela do sobrado Sua plumagem furta-cor Parecia um mosaico, Camuflado em meio a flor Sem saber que era notado A cantar canções de amor Para um céu, Apaixonado. Passarinho bateu asas Foi pra cima do telhado, Viu de longe sua amada Decidiu voar mais alto Chegou meio “sem graça” E pousou bem ao seu lado, Avezinha encantada Ganhou logo um namorado. Lírica Eu canto a vida Mergulho fundo Na poesia De um céu noturno, Contando estrelas Que num segundo Como centelhas Seguem ariscas E sem rumo. Eu vejo um brilho Cortar as horas Dourando um rio Em plena aurora, Na fresta um fio De água morna Açoitando o frio. Num céu de asas Em fuga um vento E uma nuvem que disfarça A passo lento Seu ar de trapaça: Muda o tempo Abrindo em luz e calor O velho firmamento. Antes do amanhecer Não parta Ainda há algo, Sobrou um pouco De tudo: Aquelas palavras Sussurros. Não faça Do fim Enfim a dúvida, Nem deixe Se desdobrar o feixe Da ruptura, Que não se desfaça em sangue A lágrima Não desbote ou manche A alma Perca ou se desencante A tara... A saga dos amantes. À tua porta Há muitas chances para o amor Há muitos convites Chamados, É preciso manter alerta os ouvidos Libertar os sentidos E manter sempre acordado A chama de um riso Para não passar despercebido Ante a um olhar apaixonado. São muitas as possibilidades: Crer é preciso Tentar é preciso Mas precisão em demasia Não faz poesia. Melhor é o amor com improviso, Natural Sem mal ou vício, Mostrando que a simplicidade Apesar dos riscos É um risco alucinado De felicidade. RENDEIRA No olhar fractal Da mulher O fino arabesco é tecido As íris denunciam A perfeição O infinito, As formas arriscam Uma profundidade E o sorriso franco anuncia Um ar de felicidade. Primeiros versos Não retarde a música Do pensamento Nem freie o apelo De teu poema, Mostre-o agora Faça-o surgir E se insurgir Contra a ordem Que estabeleceram para ti. Chega de normas E regras, As mãos não tardam A dar-lhe forma, Olhe a tua criação, Deixe soprar a liberdade O fluxo e o refluxo Das idéias Das sensações Sem retalhar a força dos desejos Impressos Nestes tímidos Primeiros versos. BIOGRAFIA Werton Francisco Rios da Costa Sobrinho, teresinense, é poeta, cronista e quadrinista. Publicou dois trabalhos poéticos: Na Periferia do Tempo (1995) e Inversos (1997). Na prosa escreveu variadas crônicas para o suplemento Grande Dirceu do Jornal Correio do Piauí (1998), assinando a coluna “Caleidoscópio”. Autor premiado em concursos literários do SESC, UFS e CEFET, condecorado pelo Governo do Estado do Piauí com a Ordem do Mérito da Renascença, é verbete do Dicionário Bibliográfico de Escritores de Todos os Tempos (Adrião Neto), tendo participado de quatro antologias: Composições Literárias (CEFET/PI – 1997), Antologia do Concurso de Poesia Falada do Norte-Nordeste (UFS – 1995), Antologia das 30 melhores poesias da UESPI (UESPI – 1999) e Antologia Urbana (UEI – 2000). É sócio da União Brasileira de Escritores – UBE/PI, Associação de quadrinistas e aficcionados – AQUA e sócio-fundador e primeiro Presidente da União dos Escritores do Itararé – UEI. Atualmente é professor da rede particular de ensino, cursa licenciatura plena em geografia e está concluindo o curso de História na Universidade Estadual do Piauí – UESPI. NÓS Tu parcela de mim Eu fora de ti, Tu além mar, Eu sem rumo Porto ou fim. Tu inteira... Eu, pedaços Acreditando, enfim Ser tu parte de um “eu” Que não existe sem ti. AURORA, s.f. Claridade que precede, no horizonte, o romper do Sol.; alvorada.; (fig.) princípio da vida.; juventude.; origem. (Dicionário Globo)