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Poesias-->EPITÁFIO -- 24/02/2002 - 02:50 (Djalma Monteiro Pinto Filho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
EPITÁFIO



I



O dia sim,

e o outro também,

deram um diagnóstico

assustador para Epitáfio:

sofria de mau-humor crônico.



II



Acordava com o pé no avesso,

esquerda à frente no frio chão.



III



Sempre bebeu café amargo

requentado pelos anos de solidão.

A caneca torta, quase em derrame,

transpirava com o calor de sua boca.



IV



Nunca teve medo das balas de Cosme e Damião

nem pavor das mãos, vazias, cheia de fome.

Nunca correu com os pés no chão atrás da bola

nem vibrou, jamais, por um gol do Brasil.



V



Em seu esconde-esconde

trocava de identidade

com óculos e barba amadoras.



VI



Amigos?... Nenhum restou.

A fria palavra, companheira,

amargou qual seu café em vida.



VII



Fora preparado a pensar

que a morte lhe chegaria cedo

e sem cara de zoológicos.



VIII



Epitáfio é de batismo!



Num dia bastante comum,

do qual nem se lembra a data,

sua mãe, com sua curiosidade carpideira,

leu, num cemitério, palavras gravadas ao gesso.



— Meu filho será Epitáfio!



E Epitáfio, quantas e quantas vezes,

brincou de morte com a vida

mesmo quando franzino de quilos

e com cara de anjo-defunto.



— Será Epitáfio. E pronto!



IX



Foi Joaquim, Giovanni, Marcos e Manuela

sem nunca ter feito nada para mudar seu nome.



X



Agora,

um peso de chumbo

lhe corrói o surdo ouvido esquerdo.

A dona na pensão grita,

sua voz de gralha não mais o ensurdece

por mais que tenha ouvido a fala das gralhas.



XI



Café com açúcar

e uma voz de água e sal.

Epitáfio, exigente, quer biscoitos de goma

daqueles de merendeira, escondidos pela infância.



XII



Marilita , a dona da pensão,

no seu silencio histriônico de gralha,

tem, para Epitáfio, um jeito de mulher bonita.





XIII



Em seu quarto claro

os cadáveres de corpos passados

ainda fazem requentar seu café amargo.



XIV



Pela causa,

Epitáfio perdeu

até a sexualidade!



XV



A porta bate.

Epitáfio levanta-se com o pé direito.

Marilita, carinhosa, sem saber do seu passado,

entra no quarto e pede silêncio sem revistar sua memória.



XVI



Epitáfio vive!



XVII



Na porta da pensão,

incomodado pelo riso frouxo dos homens,

Epitáfio, com seu habitual mau-humor crônico,

brigou com o padeiro, com o verdureiro, com o leiteiro

até com a pedra na soleira da porta, inanimada e imóvel,

que apercebia Marilita, de manhã, sair à rua sem roupas de baixo.



























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