O terror sem bomba, sem ruído, sem canhão, sem comoção: é o da fome, da incerteza, do desemprego, da ignorância, da perda da dignidade e de esperança.
A face da morte impressa na criança desnutrida, que foi gerada pelo medo, pela carência de tudo_ comida, afeto, justiça social_ através de um homem triste, precocemente envelhecido, às vezes bêbado, na mulher doente, faminta, anêmica.
Já nasce marcado _ destino de anjo _ olhar sem brilho, mirando o nada, esperando nada da sorte _ só a morte_ com direito, que sabe, a mortalha branca, no branco e pobre caixão e a cova rasa, com alguma lágrima ou alguma reza....
Esse é o nosso terror insidioso, silencioso, rural e urbano, bem brasileiro, cotidiano... Mata mais que os aviões nas torres de Manhatan, mais que a guerra do Vietnã, sem direito a comoção globalizada e a rede de TV...
A África agoniza assim. Milhões de famintos e doentes vitimados por aids, tuberculose, peste, cólera, malária, verminoses, etc. Rótulos tão variados para a morte como os dos medicamentos produzidos pelas multinacionais.
Parte das Américas e da Ásia agoniza também. O Afeganistão subnutrido, ignorante, talibã, tão suicida quanto os pilotos que se chocaram contra as torres gêmeas ou o Pentágono, parece implorar:
_ “Que venham as bombas redentoras que vão abreviar nosso sofrimento crônico e vão trazer nossos minutos de celebridade via satélite, as bênçãos de Deus e o perdão para os nossos pecados”.
Para essas crianças que foram tão mau recebidas pelo mundo, PAZ soa uma palavra tão vazia quanto suas existências, seu futuro ou seus estômagos.