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Poesias-->A RUA PRINCIPAL -- 08/03/2002 - 12:59 (Ricardo França de Gusmão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A RUA PRINCIPAL



Ricardo França



De súbito, na noite,

um gatilho foi pressionado.

Uma luz em flecha

cortou o espaço

rasgando a escuridão

em susto e expectativa.



O homem usava terno.

Tinha uma aliança na mão.

Não deu tempo para berro:

já caiu morto no chão.



E a crueldade ficou nua,

escandalizada, na rua principal.



Na rua tinha um hospital.

Na rua tinha uma delegacia.

Cobriram o homem com jornal

para não doer na vista.



O homem era casado.

O homem tinha filha.

O pivete, assustado,

fugiu sem o que queria.



O hospital tinha um diretor.

A delegacia um delegado.

Enquanto o homem morria

eles tomavam chope gelado.



A rua era iluminada,

de todas a mais bonita.

O homem já não espantava

pois o espanto era rotina.



A polícia interrogava,

o enfermeiro aferia a pressão.

O povo não vira nada,

nem mesmo o homem no chão.



E a violência ficou muda,

escandalizada, na rua principal.



O acontecimento era na rua.

O homem a novidade.

A multidão estava sedenta

de assunto para passar a tarde.



A lua era de pedra.

A pobreza de cimento.

Era ela a assassina

e o pivete o instrumento.



O povo se aglomerava,

a festa tomava conta.

Ali tudo se misturava,

hipocrisia, raiva e dor.



A polícia protegia o corpo

que já estava morto.

A ironia fazia a farra

com o que já estava torto.



O comércio abriu as portas

percebendo o movimento.

O povo comemorava

e o homem era o monumento.



A lua era de pedra.

A pobreza de cimento.

Em cima do homem caiu uma rosa

como forma de agradecimento.



E o tormento ficou estupefato,

escandalizado, na rua principal.



O homem sangrava no peito

em meio a multidão.

Ele usava terno

e tinha uma aliança na mão.



O homem era casado.

O homem tinha filha.

O pivete, já esquecido,

caiu também na folia.



O menino pedindo esmola

era outro ponto extremo.

O tempo era a mola

para ele ser outro instrumento.



O homem era o retrato.

O povo a radiografia.

A marginalidade é o colapso

da prensa capitalista.



A aurora se anunciava,

a vida prosseguia.

O homem ainda no chão

era peça decorativa.



A rua era iluminada,

de todas a mais bonita.

Ela era a principal

onde, principalmente, se morria...









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