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Poesias-->Monotemática -- 26/04/2002 - 13:57 (Karina Santos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
18/10/01

amanhã

dez dias sem vê-lo

perdi a conta

de quantos sem tê-lo

quando for trinta e um

dia das bruxas

três meses eu do avesso

desenrolada feito novelo de lã

temo nunca mais achar-lhe a ponta.



22/10/01

acostumei-me a dormir sem relógio

pra não machucar-te

agora só

continuo a dormir sem o relógio

para não machucar-me

e talvez

para evitar

ver o tempo passar

longe de ti



24/10/01

sala de espera do dentista

sala de espera

de um possível passante

sinto-me ridícula

olhando através das paredes de vidro

pensando se faz esse caminho



27/10/01

começo a lembrar

e perco o controle

da mente

do coração

e do corpo

meu corpo reage

e goza

como se estivesse comigo de fato



um desejo maciço e permanente (Vinícius de Moraes)





03/11/01

só queria

não pensar

não lembrar

não sentir



vontade de pirar

ligar

ordenar que venhas

imediatamente

dizer que me ama

maldito bendito desejo

que me acompanha

de que no fundo

tudo não passe mesmo

de apenas um melodrama



05/11/01

veio finalmente

buscar suas coisas

fumei unzinho antes

pra me acalmar

parece estar dando certo

ainda não pulei no seu pescoço

mas ainda assim

é difícil

estranho

ficar ouvindo e

falando amenidades

será possível que não sinta

a tensão absurda no ar?



veio

e foi-se embora

como se nada fosse



13/12/01

pensamentos libidinosos

saltam da minha cabeça

saem pelos olhos

e pelos poros

e ficam por aí

vagando

sem paradeiro certo



28/12/01

Pedi dois

e tenho dois à mesa

que situaçã...



29/12/01

e o desejo

segue a sair

por todos os buracos do meu corpo

e parece não haver meio de aplacá-lo

sozinha

...

sozinha

depois do gozo

fica faltando aquele outro corpo

colado ao meu

o gozo

é até mais intenso

mas não compensa esse outro prazer

de sentir o gozo do outro

e a outra respiração ofegante

e o suor

e a saliva

e o cheiro do outro.



13/01/2002

mais lágrimas derramadas

por nada

por tudo

pela lembrança

até do que não aconteceu

difícil não imagimar

possibilidades de retorno

ainda que tão improváveis



pensei que tivesse passado

mas foi apenas uma pausa

a anestesia que eu pedi

agora já passou o efeito

preciso de outra dose

outros homens

outros paus

pra me distrair



14/01/02

hoje

fazendo comida

lembrando dele

na cozinha comigo

chorando cebola

provando temperos

sentindo sabores

de salivas

misturadas

pitadas de desejo

punhados de desespero

longe

dele.



25/01/02

bebendo coca-cola com cachaça

e pensando no tal

sempre

sempre

sempre

há quase

quase seis meses

só por isso ele merecia morrer

porque faz quase seis meses

e pra ele tanto faz

não faz diferença





18/02/02

tento te afastar de mim

mas sempre voltas

sorrateiro

metendo-te entre meus pensamentos

quando devias estar

metendo-te entre minhas pernas



te imagino

e a mim

daqui há anos luz

lendo tudo isso

há de ser possível

um dia

passar tudo a limpo

botar os pingos nos is

e

quem sabe

se não for pedir muito

parar de doer



13/03/02

gripe

não fui trabalhar

como quando da primeira vez

que dormiste comigo

e estavas aqui novamente

eu, demente

a imaginar diálogos inexistentes

e improváveis





18/03/02

café e villa lobos

sola

ontem ouvindo aquele menino violonista maluco

e pensando naquele outro menino

saco

sempre querendo que estivesse comigo

e à noite chorei de novo

insônia, chá de erva cidreira

pensando onde estaria

como sempre imaginando que me observava

medo de enlouquecer



01/04/02

dia dos bobos

ontem à noite

lágrimas amargas

só isso

lágrimas que não paravam de correr

e uma dor e uma vontade de gritar

por mais anestesia

e agora mesmo

oito meses

e uma saudade absurda

e achei um cd teu aqui

e tenho idéias cretinas

de te ligar e

quem sabe

sofrer mais um pouco



quando menos espero

tua lembrança me atinge

como um raio

sem trovão

sem avisar que vinha

como quando chegastes

naquela fogueira

fogueira de todos os meus medos

queimei um a um

flambados na dor

é o que parecia

agora tenho medo

de todos os medos que hão de vir



05/04/02

cinco meses que não o tenho

sob meus olhos

ontem quase insônia

a saudade corroendo o peito



porque?

a tua presença

a tua mão

a tua respiração

faz tanta falta?



a tua ausência dói

como nada antes doeu

queria tanto

que estivesses aqui

sentado a meu lado

segurando a minha mão

antecipando o pé

como da primeira vez

merda

mais uma vez

o mico de chorar no ônibus

e

há cinco meses não te vejo

já não lembro há quantos

não te beijo



preciso que isso acabe

antes que eu enlouqueça









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