Em Belém, ainda criança foi adotadada, com pai e mãe em pleno vigor.
Sob o julgo das senhoras no casarão... Quanto dissabor, suas lágrimas tantas vezes proibidas na garganta.; suas roupas maltrapilhas.; sua cabeça raspada.; sua saudade usurpada e seu passado a fardos... Seu passado a ferros apagado.
Só queria sonhar, brincar no terreiro, aquecer-se num colo, que fora muitas vezes relegado.
Menina simples que o arcanjo anunciou...
Sempre quis o amor... Só queria o amor.
Assistida pela vida carregou o fardo e as feridas.
Viveu seus quinze anos carregando sacas e sacas de carvão, quando pouco sentia calo nas mãos, mas dor maior só a falta de educação.
Viveu na ralé,
Tomava café,
Viveu num gueto, trabalhou como operária numa fabrica... Abortou do peito tanta dor, tanta dor, que sangou, sangrou. Até conhecer o homem que por sua vida passou deixando o seu rastro... Um filho que ela com tanto carinho cuidou.
Padeceu entre os parentes, vestiu colcha de retalhos, alguém a acusou de mulher solteira... Bebeu do sofrimento o pão e o vinho que o diabo amassou.
Contudo acreditava...
Acreditava...
E viu na noite negra a luz da lua argentar as suas lágrimas, que em puro corpo doído rasurava a sua fisionomia, alferia a sua cria.
Em voltas com o sofrimento eternas foram as horas que chorou.
maria!
Maria cuja luz ilumina o caminho em plena madrugada...
Maria mãe família.
Maria cuja história, em bravos traços no colo, mãos firmes em obras o curso da dor transformou.