LEGENDAS |
(
* )-
Texto com Registro de Direito Autoral ) |
(
! )-
Texto com Comentários |
| |
|
Poesias-->sim,sou tua -- 11/05/2002 - 01:56 (maria da graça ferraz) |
|
|
| |
Sim, sou tua
como uma rua que conheço e jamais esqueço
Onde há quem fica e quem passa
Onde há quem mora e quem atravessa
Sou tua como o obscuro ambulante que
fixa com olhar duro a calçada
Sou tua como o pedinte embriagado
passos enviezados - Aparição súbita
Sou tua como os refugiados e como os banidos
de todas as esquinas da vida
Sou tua como os marginalizados e foragidos
de todas as grandes avenidas
Sou tua como a multidão promíscua e inculta
que nasce ,cresce e amadurece na rua
Sou tua na sofreguidão do destino anônimo
de tantos josés, marias, fulanos e antônios
sem identidade e sem registro no cartório
que servem para ser isto: a massa de pancada
O povo- o bode expiatório
a ter a data do velório marcada na encruzilhada
Sou tua - Como uma certa rua
Onde há os que vivem, e os que se despedem
Onde há os que permanecem, e os que morrem
Sou tua como o turista, apressado, em viagem
Sou tua como o forasteiro de olhar alheio
para as vitrines da cidade
Sou tua nos palanques agitados, nas marchas
de protesto, no coração do andarilho,
nas procissões modestas, nas armadilhas da noite
Sou tua no cortejo fúnebre, nos despachos,
no tumulto de corpos suados em agito,
no séquito dos oprimidos do grito,
no sofrimento de milhões
de escravos arrastando seus grilhões
Sim, sou tua
Como tua é também a rua
que conheço e jamais esqueço
Onde muitos apenas passam...
Onde a carestia varreu a gente
inadimplente que nela habitava
Rua agora vazia de permanência
casarios abandonados e velhos
da beleza triste da decadência
Sim, sou tua
Como parte dessa rua
Como os que partiram dessa rua
Como os que partem
a solidão dos desiguais em partes iguais
|
|