Um espelho imenso pra lua em suas noites escuras se libertar.
O rio segue calmo, por entre os meandros dos igarapés, passando em frente as casas abandonadas, casas, trapiches e vilas.
Cortando a mata, em silêncio, em sombra, em paz...
Abusando da noite, espelhando a lua.
Seja em dia de sol, como em dia de chuva...
Segue a canoa do pescador, que bebe e come dali, batiza o corpo da moça e do garoto nadador,muda de cor, muda.
O rio brinca entre as Garças, Perdiz, Colhereira e o Guará.;
Fala ao ouvido do Boto, mata a sede da onça e banha sem parar os lírios das várzeas, brinca de navegar com os buçus, olho de boto, buritis, e a mandioca. Segue todo prosa embalando os filhos da mata, segue a sua jornada.
O rio chega na cidade segue seresteiro.; passa pelas lavadeiras, sobrevive nas ressacas, passa por entre as palhas trançadas do paneiro, passa por entre as palafitas. E agoniza com o lixo sobre ele...
Passa devagar por entre os esgotos e quase sem vida chega ao centro...
E quase sem vida chega morto.
Morto ele ainda caminha, tenta brincar com as garrafas, pneus, ferros, sacos...
Se arrasta,se arrasta...Mas já é uma ameaça, quase não consegue ir e fica enclausurado. O seu odor pesado, muito lodo, tudo é uma desgraça.
Não há quem aguente viver nessa lama.
O rio que passa, passava como esperança naquele vilarejo do jardim, sob os olhos atentos da criança que mergulhava os pés em suas águas.; que mitigava a sede e matava a fome dos homens.