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Poesias-->P S I T A C I S M O S V -- 13/06/2002 - 04:42 (Walter da Silva) |
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P S I T A C I S M O S V
Extraviada a forma
do poema,
contento-me com
esta memória
de tantos anos
impoemáveis.
A vista, meio duplicada
conduz-me neste
esforço remoto
por entre labirintos,
estros, restos de
mim, comigo.
Os poemas, quão imberbes,
aguardam vez
de se esticarem no tempo
a me olhar de Orion,
a tantos milhões
de anos-luz.
Tenho medo de acordar,
sem poder vislumbrar
o derradeiro suspiro
de um cisne que nem nasceu.
Sob minha dúvida, repousa
a dívida do poema, inegociável.
Ameaçam-me de soslaio,
homens assistentes do sol
e mulheres desta óbvia
mas romântica lua do
mar de Olinda,
olindando minha busca poética.
Acordo insatisfeito
a qualquer hora da metade
da noite maçante,
sonho poemas-pesadelos
lavas e larvas de sonetos
protozoários e linfócitos.
Jurar que nunca mais
um poema, qualquer que fosse,
me inquietaria bem mais
do que tua neuro-ausência
e tua cumplicidade
no poemar-se assim... sem mim.
O poema, como aquela luz
que não se apalpa,
esconde-se nas profundezas
da Ilha de Itamaracá,
bem no fundo, logo ali
onde supultara minha angústia.
Vejo-me Netuno, despido
de inspiração, de
outra qualquer forma
de buscar no espaço
a verdadeira face
do poema que se nos encara.
Horrendo será nosso destino
se abrupto surgir um deus
de névoa e, sorrateiro
como a não-palavra,
querer, sob alguma hipótese
provar que existe.
Lembro-me bem que
eles me falavam de amor,
os homens de ontem
e os de hoje, invejosos
de com presciência,
escrever o poema-forma.
Mentira, somente. Jamais
releram os poemas da
infância. Jamais masturbaram
como todos, até
sangrar vulva e prepúcio
à espera do poema como forma.
Ah, deixa-me senhor das palavras,
farta-me com teus fantasmas
de óperas, dândis, deuses
do ar e da água.
Tentarei por último,
teu nome. Enfim, pelo menos...
Haverá pouco tempo
antes que surjam profetas
anunciando o fim de tudo
talvez do mundo, carregando
consigo a forma-protótipo
do poema inexprimível.
Na sala, o telefone nem tocara
para mim, hora alguma.
O calor do aposento vaso-dilata
a ansiedade e o tempo-enquanto
gozando à larga do meu sentimento
de caçador de poemas.
Por fim, sem tempo para
pagar a conta nalgum bar
da cidade, paira sobre mim
o monóxido de carbono perfeito:
aquele que, impune, insano, inocente
ensinou-me a dizer: não há poema algum.
Walter Silva
Olinda, 31.10.1989
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