Quem, no meio do frio, me cobrirá com lindas orelhas e me dirá palavras indecentes nos ouvidos, fazendo-me tremer de arrepio?
Quem, atrevida, me acordará com os seios em riste
como um pássaro que não quer tudo apenas o céu, a gaiola, o alpiste?
Quem que, quando eu dormisse, por mim zelasse
e eu, quando acordasse, além de café a presenteasse, com poesia, massagens nos pés e cumplicidades de enlace?
Quem eu agarrarei por trás quando sair cheirosa do banho e terá orgulho de eu ser amante, amigo e namorado ao mesmo tempo?
Quem em bom senso dirá que muito me assanho?
Quem orientará a guerrilha diária a que me proponho?
Quem será inteligente e gostosa a meu lado como está no meu sonho?
Quem, a quem me disponho a cozinhar, sorrir, dançar e fazer versos, quem racional e perversa cochichará nos tímpanos da minha alma a doce ordem, a venal palavra:
Calma!
Quem com sua alma me mostrará um mar estelar?
Quem, minha igual, me apontará andores reais, sem excesso de chantilly no bolo ou no café expresso? Com a determinação e a nobreza de poder ser banal?
Quem, coisa e tal, me beijará a boca e me deixará enfiar as mãos por debaixo da barra dos segredos do vestido?
Quem um dia passeará comigo no segredo contido na praia da Trincheira em Cananéia, ou na barra do Jucu em Vitória?
Quem, senão tu que eu elejo e planejo, pode habitar o lugar a suíte que há tanto tenho reservado?
Quem, encomendada, pode me manter na confiança dos edredons enquanto não chega?
Quem sobre mim sua, pinga e chove?
Quem que com lucidez resolve o abismo simples de prever o risco de sonhar...pra nele mesmo cair, rir, se embolar e embalar?
Quem me dará a idéia de conceber a saudade no sentido tático quem, não estática, de longe me fará cometer poemas de meia-noite como estes que eu cometo?
Quem, sem favor, me estende o braço com rosas na mão com explicação pro meu calor?
Quem, senão minha pequena sozinha meus olhos acesinhos, me faz sonhador...