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Poesias-->roubo -- 20/07/2002 - 23:52 (gisele leite) |
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roubei-lhe a sílaba esgagada em sua garganta
gritei por você,
chorei por você
as lágrimas que não eram legítimas
mas a dor completamente solidária
roubei-lhe a perplexidade
que em seu olho demonstrava ao mundo
uma ingenuidade insuportável
tinha que lhe dizer a veracidade do mundo
num só alerta sonoro
imaginei-me a guiar-te de forma branda
e delicada
mas saí arrando-lhe os pejos
e alma
lhe apurando os ouvidos,
filtrando sentimentos
com olhar distantes e parcimoniosos...
roubei-lhe um riso certa vez
mas eu tinha mais que seus vinte anos
e os meus vinte anos já se pareciam
com os meus quarenta
acho que nasci já com quarenta
e fui envelhecendo por dentro
a cada dor,
a cada sílaba,
a cada silêncio
e sobretudo a cada filho
que entregava ao mundo resignada
por não me pertencer
como posso dar-lhe a vida
que já é sua?
como posso tirar-lhe a sílaba
que só em sua fonética
encontra sentido?
é roubo e
arroubo da idade e
de mãe.
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