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Poesias-->Gritando por nós -- 19/08/2002 - 12:14 (gisele leite) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
o grito

é o desatino da palavra,

da voz..



o grito

é a exarcebação do verbo

que se alça ao infinito

num mergulho suicida

E mesmo assim volta...



o grito relembra nossos medos,

nossas infâncias

a sombra que se projeta para além da visão



O lado negro e confuso

dos que desesperadamente falam,

invadem de fonemas o cenário

na busca de socorro ou compreensão



As crianças gritam lá fora,

a carências urram no peito

uma ausência animalizadora

de quem busca incessantemente que os ame



como buscassem um lenitivo inédito

e difícil

as crianças gritam e choram

mais que outrora

Mas nem há mais piedade no mundo





A compreensão matemática dos afetos

se transtornaram numa estranha inequação

num obtuso egoísmo

de trevas,

e a incompreensão,

e solidão se agigantam entre os homens



que produzem guerras, mosntros,

catástrofes,

destruição

quando nem mesmo um grito se ouvirá

haverá então um profundo e infinito silêncio

Todos se mataram como insetos



Os mesquinhos definitivamente não exercitam

o verbo dar

com medo de lhe faltarem

aquilo que mormente

dão...

é que não sabem

que toda sua avareza, e toda sua pobreza

paradoxalmente deve ter tido a origem

em algum

mesquinho fazer...



Não sabem dar e, também não sabem receber

e vivem com migalhas

sentindo-se milhardários

com a própria vileza num microcosmo.



O grito lá fora na manhã quase

azul

torna cianótica minha visão

o grito novamente,

agudo estridente,

o verbo desesperado, a paixão,

a sangria desastada

dos nós que não se fecham jamais...
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