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Poesias-->abraço onipresente -- 09/09/2002 - 22:25 (gisele leite) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
como pude viver tanto tempo

sem esse abraço

pleno e onipresente



como pude estar tanto tempo

aqui sem verbalizar meu amor.

sem chamar seu nome

senão apenas com olhos

e gestos secretos...



como pude ver somente o que

há para se ver,

se eu ainda não pudia enxergar

por causa da ausência de luz



e nas mirabolantes trevas

eu sabia de cor

cada detalhe de teu rosto,

tua ruga, tua expressão, tua careta

sofrida, seu gemido lânguido e

sequioso

de uma só e reles reação minha



como pude passar por tudo

isto

superar a ausência,

a perda e,

depois a essa

estranha dormência que

transforma seres humanos em ígneas

pedras incandescentes

que rolam de dentro da alma...

e saem inexplicavelmente inexpressivas e mortas



como pude esquecer-me do afeto

da delicadeza, das flores do jardim,

e tudo ser assim tão ríspido,

prático, automático,

eletrônico, e absolutamente

tão duro...



fui tão dura comigo mesma,

dura caminhada,

duro passo até o cadafalso

onde amputei

um coração

de menina órfão

e frágil

para nascer guerreira e imortal
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