Usina de Letras
Usina de Letras
372 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 62846 )
Cartas ( 21345)
Contos (13290)
Cordel (10349)
Crônicas (22569)
Discursos (3245)
Ensaios - (10544)
Erótico (13586)
Frases (51241)
Humor (20120)
Infantil (5546)
Infanto Juvenil (4876)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1380)
Poesias (141110)
Redação (3343)
Roteiro de Filme ou Novela (1065)
Teses / Monologos (2440)
Textos Jurídicos (1965)
Textos Religiosos/Sermões (6308)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Poesias-->Poemas de amor comum e outros -- 28/09/2002 - 09:22 (Maria Tereza Bickel Cançado) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
POEMA Nº 1



O desconforto. A dor. A incerteza. A tristeza.

O absurdo. O descompasso.

O passo lerdo e incerto de um bêbado de esperanças

ou nem tanto.

Beber de um só gole ou não beber.

Beber devagar como quem tem medo de terminar

o vinho, apesar de tudo, azedo, por mal guardado,

de boa safra, perdido, como qualquer cachaça sem nome.

tolice requentar o café que sobrou

ou guardar o pão-de-ló para amanhã, já sem sabor.

Armazenar o grão para outra colheita como se faz com o amor

ou a felicidade azeda e requentada.

Minutos perdidos para sempre além do infortúnio

num perplexo anseio pelo futuro que não existe,

que tanto promete e nunca cumpre,

por falta de circunstancias futuras.

Guardar com dor a fantasia de um passado

que nunca se repete,

porque o tempo é um novelo já desfiado e tecido

e não se encontra o fio da meada

e até amoeda, no poço dos desejos era falsa

como os juramentos eternos.

E nada se cumpriu como se previa ou devia

porque nada se cumpre

a não ser a morte.

Simples e claro como água nascente

que só se vê bem à distância

poluída pelos cadáveres dos bichos que não pensam

e que, por isso mesmo, foram mais felizes do que os homens,

que se perdem nos cumes das montanhas, infelizes.

A forma do amor, hexagonal, do que não se conhece

mais que uma faceta ou duas.;

as outras, como a face oculta da lua

esconde o hediondo ou o perfeito.

E só vai saber delas o astronauta

que não tem medo do escuro,

nem de longas distâncias jamais percorridas.

Esses, são raros como as papoulas,

e só nascem de um outro lado do mundo

que ninguém conhece, muito menos eu.

O resto é tão banal como ratos, lagartas e formigas

e parecem ter antenas, como as baratas,

que coordenam sua direção,

sempre a mesma afinal.

O descanso no bueiro fétido

é o repouso do guerreiro que se satisfaz com isso

e não sabe bem o que é felicidade.

E nem se interessa.

....................................................................................



POEMA Nº 2

Algumas coisas continuam definitivamente inexplicadas

e, realmente, me intrigam. Como por exemplo,

em que lugar ficou guardado o meu passado?

Não aquele que vivi

- este eu sei exatamente onde está-

mas o que deveria ter vivido,

o que não escolhi.

Não é o desengano que me desafia.

É desfiar o engano ponto por ponto,

sem perder o fio,

é que me aniquila.

Não quero saber do fim.

É o começo dessa trama que me interessa.

É não poder desatar o nó cego, feito às cegas,

como se necessário fosse me atar

a qualquer mentira mal contada,

para não morrer de verdade.

O que me pesa, entretanto,

é não ter te assassinado todas as vezes

em que tive vontade.

e com tanta e tão grande crueldade

que, mais vidas você tivesse,

mais vezes te mataria e com mais ardor.

................................................................................................

POEMA Nº3

Há um jeito de ironia no ar de todas as manhãs.

Há razões na minha cabeça que o coração desconhece.

Há um momento perdido atrás do sofá

para sempre.

Como um alfinete na areia,

que o sol descobre, mas eu não.

Não há uma razão para morrer e,

por falta de motivos, vivo.

Não há razão para viver.

Há não ser a das pedras, nos rios.

Rio um pouco de tudo

com a estranha certeza dos velhos de que tudo passa.

E me espanto com a aspereza dos gestos,

na inconsciente certeza dos meninos,

de que tudo é eterno como a morte.

Até a vida.

Há um futuro presente no passado

como um cheiro de fruta de quintal que não apodrece.

e o desejo de morder o araçá

que esqueci no princípio da vida.

A malva. O capim. O bem-te-vi.

Que nem te vi direito

por falta de urgência.

Choro um pouco por nada.

Como se viver doesse como um parto.

Não tenho medo da morte e nem quero a morte.

Como não gosto do amarelo.

Há o medo de sentir inveja dos teus olhos

que a terra não comeu antes de mim.

E a saudade da vida,

eterna, depois de mim.

Tortura um pouco essa maldade,

essa dentada na fruta amarga.

Nunca bebo no mesmo copo

e afio as minhas garras, nas tuas costas,

por precaução.

...............................................................................................

POEMA Nº 4

Se eu desfizesse o nó dessa agonia

o que descobriria, afinal?

A sensação de dormir entre a vida e a morte

é tão banal em mim

como a própria inconsciência da morte

em todos os os outros animais.

Que deus é este que me fez mais forte que a morte

e marcou definitivamente o meu dia final?

Como se me condenasse, antecipando os meus pecados,

a seguir, desde o princípio,

o único caminho possível:

o dos infernos.

E, por castigo maior,

me fez prever um paraíso que não existe.



.....................................................................................................

POEMA Nº 5



A lua se espalha como leite derramado

sobre um quintal de chumbo.

O tédio escraviza, atrás das grades da janela,

um condenado à morte.

Sem medo. Sem terror.

Absurdamente encantado como se fosse esta

a única noite a viver e não a última.

Um minuto eterno e efêmero

como a luz de alguma estrela

que ninguém sabe ao certo se existe,

cristaliza a dúvida onde as sombras se multiplicam

até o infinito.

Só o calor insuportável de uma prévia noite de verão.

Nem a leve sombra da mais vaga emoção.

Como se o coração calado, calasse impreciso e vago,

o desdém pelo que já é velho antes mesmo de nascer.

A razão tece comentários.

O coração, mudo e seco, tortura em vão a consciência

por não perder a razão.

Como se preciso fosse conter a tempestade.

Como se possível fosse.

Atrás das grades da janela impreciso e incerto desejo

se esvazia de intenções

e percorre o chão molhado de chumbo

em busca de compreensão.

Nada.

Cansado e mudo

o sentimento escorre pelos cantos da janela

como suor.

A manhã insiste em descerrar os dentes da noite

em brancas gargalhadas.

Atrás das grades da janela o condenado à morte

sem medo e sem terror

antecipa o ato do carrasco e se desfaz,

melancolicamente, sem nenhuma emoção.

E sem razões para morrer,

vive.

Como se necessário fosse.

Como se possível fosse.



...................................................................................................

POEMA Nº 6

É inevitável que eu sofra.

Não tenho a pele dos animais

e o grão de ódio que me gerou,

gerou também a maldição da dor.

É inevitável que eu viva

mais que todos os animais

como se fosse o primeiro e último

dessa saga sem futuro.

Nem que eu queira

não serei capaz de morrer por nada.

Muito menos por mim mesma.

É inevitável que eu viva

como um pé de alecrim

no canto de um túmulo,

sem saber de um corpo há tantos anos morto.

A eternidade descansa no sono

de um deus mortal

e não é nos braços de um anjo

que encontro o meu descanso.

É na curva de uma estrada que não leva a nada.

.........................................................

POEMA Nº 7



Do mais comum e imperfeito portal da lucidez

se espalha a sombra, como chumbo derramado,

da loucura amarga e desvairada.

E nem nos umbrais das mil janlas

abertas para o sul,

se vislumbra uma única estrela,

nem a mais antiga,

de todas as que contei e recortei

da esperança de não ver nascer o sol, jamais,

em madrugada nenhuma.

E o mofo cinzento de tanto passado igual,

de tantos dias iguais,

de tantas pessoas iguais,

guardados como moedas antigas,

sem nenhuma razão.

O estranho bolor dos cantos onde a luz se desfaz,

envenena o que ficou de uma noite

que poderia ter sido eterna e não foi.



.................................................................



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui