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Poesias-->Rua deserta -- 26/10/2002 - 22:47 (Antonio Carlos Garcia Pezente) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Rua deserta



Horas mortas.

Meus passos fecham-se num circulo vicioso.

O cigarro queima-me os lábios...

O corpo não responde.

-Vai, diz-me, vai! Caminha! Avante!

Caminho. Sigo. Mas os passos se sobrepõem.

O círculo prevalece.

O corpo, agora, simples mancha de sangue

em mar de neve... é um cordeiro!

-Vai, diz-me, vai! Caminha! Avante!

Caminho e, da estrada, uma gargalhada

vem, e se acumula em minha alucinação.

Medo... tenho medo do beijo da boca da noite!

Sinto em teu calor, suave, algo fatal escondido.

Teus dentes!...

Nesse negrume a mancha de sangue,

em mar de hospício,

teme o branco de tua boca.

Branco que se precipita pelo buraco da lua...

Meu corpo não responde...

-Vai, diz-me. vai! Caminha! Avante!

Enlouqueço!

Amanhã... depois, o dia menos esperado

hás de te surpreender,

maldita voz de comando!

Hei de negar-me.

Hei de acabar com essa cega obediência.

Hoje sou incapaz... hoje não sou.

A alucinação provocada por teu corpo

mantem-me sob domínio... fascina-me!

-Vai, diz-me, vai! Caminha...

Não posso!

Como vou encontrar a reta solidificada,

se nesta desgraçada rua deserta

meu raciocínio foge pelo buraco de tua boca?

Cala-te!

Deixa-me!

Deixa-me continuar assim,

neste mesmo círculo da vida

até chegar um dia

em que encontre a saída

desta rua deserta!

Deixa-me até chegar esse dia...



Pezente.

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