O sofrimento pertence a quem
E´ deveras cuidadoso.
E´ inerente ao ser humano que tem
O raciocinio habilidoso.
Nao ha´ como discernir
o roteiro da emoçao...
se tende a perseguir
as batidas do coraçao!
Jovem coraçao atropelado
E afogado pelo desespero
dos sofredores, em congelados
Viadutos, ou na tortura do esmero.
Nao e´ por acaso
que vivo a desesperança
do porvir...
Nao o meu porvir,
cujo desfecho ja´ conheço.
Mas, o porvir
Do meu pais,
que desconheço.
Nao sei se caminhamos
Para o norte ou para o sul.
Se a latrina que sonhamos
Fica la´ no distante sul,
Por certo a fossa esta´ no norte,
que tanto desprezamos.
Pensar no Brasil e´ perigoso.
Se pensamos em denunciar,
Com certeza seremos cuidadosos.
Ao denunciante o juiz vai condenar.
O pobre que denuncia,
Vira desconhecido presunto.
E isto acontece todos os dias:
os denunciantes morrem juntos.
So´ os canalhas sao abençoados
Na patria do evangelho,
Os humildes serao amaldiçoados
Em meio aos conselhos dos velhos.
Poetas foram mortos
Nas "bodas de sangue",
Seus versos nao eram tortos
E defenderam ate´ os mangues.
So´ os poetas apaniguados,
De seus politicos protegidos
Sobrevivem aos recados,
E seus versos sao erguidos
Em pedestais imaculados.
Ter opiniao propria no Brasil,
Mesmo ao sabor
De uma tal democracia,
E´ o mesmo que encarar o fuzil
Da intolerancia dia apos dia...
Alem disso, o poeta encalha
Tanto no sul como no norte,
Quando aponta o canalha
Acaba sendo apontado pela morte.
27.agosto.2001
do livro "Bar, Cachaça e Poesia"
(Jeovah de Moura Nunes) |