LEGENDAS
(
* )-
Texto com Registro de Direito Autoral )
(
! )-
Texto com Comentários
Poesias-->Eros e Psiquê (Falsos fragmentos) -- 31/07/2000 - 15:06 (Leonardo Almeida Filho)
Apresento as minhas traduções fantásticas das versões oníricas em italiano realizadas por Georg Lüge Lier, em 1996, de um poema lírico redigido na escrita denominada Linear B, registrado em fragmentos de barro encontrados em Creta por arqueólogos ingleses no outono de 1960. O texto pressupõe a existência de uma peça, para representação pública em data não inferior ao século VI a.C., que lamentavelmente se perdeu, não restando para nossa geração o nome do poeta. Tudo é lenda, façamos nossas próprias poesias. EROS Não queira ver quem sou, saber-me inteiro a ti devem bastar o toque, o beijo a carne ardendo. A brasa do desejo perdura no que em nós é verdadeiro: a alma se apresenta, o corpo em chamas. A pele, as mãos, os lábios, os cabelos as pernas, coxas, seios, garras, pêlos, saliva, fluidos, sêmen, dentes, cheiros Não queira ver quem sou nesse novelo que nossos corpos tecem sobre a cama. PSIQUÊ O que amo em ti não vejo, sinto e choro o amor é sempre assim: prazer e dor ? Quisera não amar, fingir o amor e assim fingindo a dor, fingir o adoro. E o gozo então seria nau sem mastro ou mastro nu sem velas.; ou mesmo a vela sem vento.; ou imbatível caravela sem rumo, mar, sem porto, rio ou lago. Se quero ver-te, quero o que não vejo aquela chama leve sob a carne do herói de mil batalhas que invade a minha cidadela sitiada deitando ao chão a frágil e vã muralha que ergo apenas para que ataques. EROS Eu sou o que te aquece quando tremes que sopra ao teu ouvido quando choras aquele que por ti não foge ou teme aquele por quem vibras, quem adoras. Eu sou a espuma, a pluma, a lã, a seda que trilham tua pele e teus sentidos eu sou o espinho, o falo, o prego, a pedra que extraem da tua carne os teus gemidos. Amor. Esse é meu nome, assim me chamas nas noites em que gozas, em que inflamas nossos momentos mais que verdadeiros. Eu sou o amor que anseias, por quem clamas eu sou o que te apraz, eu sou quem amas não queira ver quem sou, saber-me inteiro. PSIQUÊ Meu coração é o despertar de ventos um turbilhão de feras em conflito a escuridão cruel de um precipício um deus que estraçalha os seus rebentos. Meu coração pagão tem seus momentos de libações, de preces, sacrifícios. Meu coração, que acalmas com teus beijos, em tua ausência é terra devastada às vezes, quando voltas, água calma e quando partes, vagas, pesadelos. Meu coração carrega em si desejos de ver-te em mim e em ti a tua amada. Eu busco ver em ti o meu semblante já que o que vejo em mim é o teu sorriso tu és o meu espelho, eu teu Narciso tu és a virgem trilha, eu viajante. Eu busco ver em ti o meu sorriso já que o que vejo em mim é o teu semblante. EROS A minha seta funda o teu desejo quando penetra em gozo os teus domínios aposso-me como se apossa o vinho de Agave e suas irmãs em seus folguedos. Eu sou o portador da chama eterna que queima sem queimar deixando marcas profundas, que latejam como farpas que dor, prazer, temor, terror, carregam. Eu sou o que preenche esse vazio que a tua alma sente. E pro fastio do corpo que ela habita sou comida. Diria mais: sou teu maior banquete tu és minha amazona, eu teu ginete e a minha seta funda a tua vida.