LEGENDAS |
(
* )-
Texto com Registro de Direito Autoral ) |
(
! )-
Texto com Comentários |
| |
|
Poesias-->Ato I -- 01/08/2000 - 16:03 (Eduardo Coleone) |
|
|
| |
O palco é o mundo, nós os protagonistas...
Vamos nos abraçar na coxia,
vamos compartilhar maquiagens e fantasias,
vamos ser comparsas nessa farsa repleta de realidade,
nesse antro de monstros nos observando como quem deploravelmente lastima,
Como que, em uma arena,
vamos provocar o olé da multidão,
a ira do touro estendido no chão,
no peito amor, e uma flor na mão.
Vamos incitar o aplauso ou o repúdio,
vamos receber ovações, aplausos e xingamentos.;
como em antigos teatros de rua,
nossas cenas se encontraram na esquina,
nossos clímax interagem e podem ser apreciados,
porém, permaneçamos indiferentes à toda reação,
seguindo a tradição de um ator profissional, bem ou mal,
as diversas manifestações se diluem em nossa concentração mútua,
eu no teu eu, você roubando minha cena.
Aceitemos o palco!
Abracemos nossas causas com ardor, a qualquer custo,
subtrair da mente a culpa eterna e horrorosa do pecado,
sonhando a cada dia nosso mundo novo,
num fundo inédito, papel de parede, figurino próprio,
e, sóbrios na embriaguez de nossa realidade,
na verdade crua, que corta a carne, o pulso, a alma...
Vamos bradar até o último acorde,
nos moldes do grande tenor,
ou com pavor de rockeiro,
com a calma do seresteiro,
certeiros, fortes, mas sem desespero...
Vamos desafinar em todas as notas,
rir e chorar a cada queda de cortina,
sem pose ou acorde certo,
sem formas, sem Joãos Gilbertos
Vamos pra vida que já é hora!
Vamos esquecer as angústias, as mágoas,
as dúvidas e as intermináveis novelas mexicanas.
Vamos entrar em cena de cabeça,
vamos entrar em ação como super-heróis,
como quem marca um gol ou salva um bebê.
Vamos gozar a vida, vamos gozar da vida,
assim mesmo, querida, como ela goza da gente.
Já cansei de ver o fim do mundo,
já cansei de ver o fim de tudo,
o fim do filme em preto e branco, com lágrimas nos olhos,
já cansei de ver tudo sem você,
insosso, sem graça, sem cor, sem "sua" cor.
Vamos ousar o novo!
Vamos usar o que não tem dono,
Vamos tirar o sono da vizinhança,
e, como crianças, vamos quebrar todos os vasos,
colocar o dedo na tomada de eletricidade,
pois temos necessidade de errar...
Vamos provar os sabores do mundo,
mesmo que isso traga dores, dissabores,
mesmo que o efeito da distorção ímpar do homem cause-nos estranheza.
Não nos assustemos, não temamos o inimigo invisível,
pois a música da natureza ainda é a mesma,
e, para cada pecado, sempre existe um perdão.
Façamos e disfarcemo-nos verdadeiros sistemas digestivos,
sugando o que é necessário,
depurando o que não tem mérito (e quem também não o tem),
tudo o que é defeito e defeito só.
E,
depois,
num júbilo de exaltação,
rasguemos as fantasias, nos despindo da personagem.
Descendo as escadas do proscênio, agradeçamos calorosamente
cada atuante, co-protagonistas, coadjuvantes e, principalmente, o público que
assistiu, atencioso e calado, deixando suas vidas de lado, nosso show, nosso desvario.
|
|