LEGENDAS
(
* )-
Texto com Registro de Direito Autoral )
(
! )-
Texto com Comentários
Poesias-->PETIÇÃO EM VERSOS PARA LIBERAR VIOLÃO -- 26/12/2002 - 12:18 (BRUNO CALIL FONSECA)
PETIÇÃO EM VERSOS PARA LIBERAR VIOLÃO O desembargador Arthur Moura, do Tribunal de Justiça da Paraíba, quando Juiz da Comarca de Campina Grande, foi procurado pelo advogado e repentista Ronaldo Cunha Lima para liberar o violão de um boêmio, detido pela polícia. A pedido do magistrado, a petição foi formulada em versos, e o despacho, condensado numa quadra. O PEDIDO O instrumento do crime que se arrola Neste processo de contravenção Não é faca, revólver, nem pistola, É simplesmente, doutor, um violão. Um violão que, em verdade, Não matou, nem feriu um cidadão Feriu, sim, a sensibilidade De que o ouviu vibrar na solidão. Violão é sempre uma ternura Um instrumento de amor e de saudade O crime a ele nunca se mistura Inexiste entre ambos afinidade. O violão é próprio dos cantores, Dos menestréis de alma enternecida, Que cantam as mágoas que povoam a vida E sufocam as suas próprias dores. O violão é música e é canção É sentimento, é vida, é alegria, É pureza e néctar que extasia É a dor espiritual do coração. Seu viver, como o nosso, é transitório, Mas seu destino não, se perpetua, Ele nasceu para cantar na rua E não para ser arquivo de cartório. Mande soltá-lo pelo amor da noite, Que se sente vazio em suas horas, Pra que volte a sentir o terno açoite De suas cordas leves e sonoras. Libere o violão, doutor Juiz, Em nome da justiça e do direito, É crime, por ventura, um infeliz, Cantar as mágoas que lhe enchem o peito? Será crime, afinal, será pecado, Será delito de tão vis horrores Perambular na rua o desgraçado Derramando na praça suas dores? É o apelo que aqui lhe dirigimos, Na certeza de seu acolhimento, Juntada desta aos autos, nós pedimos, E pedimos, também, deferimento. O DESPACHO Para que eu não carregue Remorsos no coração Determino que se entregue A seu dono, o violão.