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Poesias-->MUTATIS MUTANDI -- 26/12/2002 - 15:54 (BRUNO CALIL FONSECA) |
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MUTATIS MUTANDI
Há há há há há!
Meu espelho é mesmo um gozador,
Já estou convencido disso.
Novamente, ele insistiu
Em me dar
Um outro reflexo,
Um reflexo que não eu.
Anteontem, foi um garoto
E, ontem, uma mulher
E, hoje, um velho
E cada um, obviamente,
Com suas charadas sobre mim.
E, amanhã, certamente
Ele voltará a fazer
Isso comigo.
E depois de amanhã também,
E eu sei, eu sei,
E outras tantas vezes,
Tantas quantas ainda
Eu puder viver
Para sonhar
E acordar
E me ver
Zombado
E metamorfoseado
Por um espelho
De caráter indeciso
E de extremo bom humor.
E assim sempre eu terei
De voltar a me inventar,
Isto é, a inventar alguém
Para um cada ser
Que venha a surgir de mim,
Um cada ser ainda oco,
Totalmente desprovido de memória,
A quem nada de fato poderá existir,
Senão poemas
E poemas
E poemas
Que fingirão várias histórias
E traumas
E dores
E prazeres
E que se esforçarão
Por engendrar todo dia
E todo dia
E todo dia
Uma boa saída
Para cada enigma
Que o seu espelho
Engraçadinho cismar.
Mas em tudo isso
O que me causa mais medo
É o perigo de um dia
Nunca mais conseguir
Desvendar o meu cada reflexo
No espelho,
De não poder mais uma vez
Me recriar,
E então não poder
Lembrar do meu passado
E não saber quem eu sou?
E ficar perdido
Para sempre
No labirinto
Da minha identidade.
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