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Poesias-->Exílios -- 02/11/1999 - 16:53 (Guilherme Felipe da Silva) |
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Não tenho pátria,
Amada.
Tropeço
De exílio em exílio
Fincando raízes frágeis
Em terrenos arenosos
Buscando água
Num deserto de out-doors
Representando imagens cinematográficas
De deserto em deserto
Vou enterrando meus mortos
À margem de caminhos alheios
Onde nasci
Havia um belo horizonte
Onde transbordei minha infância
Entre ruas calmas e arborizadas
Onde minha juventude
Conheceu a noite
A inocência da noite
O lirismo da noite
O gosto amargo da noite ao amanhecer
Um amanhecer em que uma multidão de telespectadores
Atraídos pelas imagens
Mostradas na TV
Invadiu minha casa
E quando percebi
Não estava mais em minha casa
Não havia mais minha casa
Havia uma casa de todos
Onde eu ficava anônimo
Onde eu procurava meu pai
Onde eu procurava minha mãe
E não encontrava nem o horizonte
Que era tão belo
Em são paulo
Entre a multidão anônima
A multidão de seres inanimados
Sob a garoa fria
Agasalhado na fé
De uma sé duvidosa
Varrendo os destroços
De letreiros luminosos
De edifícios luxuosos
Observava
De janelas de trens lotados
Helicópteros
Transportando deuses
Transportando o medo dos deuses
De uma fome que eles produziram
Percebendo
Que toda beleza
Toda nostalgia
Fora ofuscada
Por nuvens de pó
Que escondem a miséria
Produzida pelas chaminés
Em que virei fumaça
Rio.
Cidade maravilhosa!
Orgia deslumbrante
Paisagem de cartão postal
Ideal de beleza
Onde as máscaras
Atrás dos tamborins
Escondem uma horripilante realidade
Onde os motores dos carros alegóricos
São tristes
Encarquilhados sorrisos famintos
Onde roubaram minha carteira
Com meus documentos e minha dignidade
Em busca de outro sonho
Incerto
Trafegando cenários
De computação gráfica
Numa irrealidade virtual
Onde deus é o homem
Onde a busca de deus
Nos leva a mais uma farsa
Soçobrei por terras de sonhos
De promessas de sonhos
De medos
E de sonho em sonho
De medo em medo
Cheguei a brasília
Deserto dos desertos
De seres desertos
De encantos luminosos
De antenas
De pirâmides
Apontadas para o alto
De onde possa vir uma nave
Que me dê carona
Para outros exílios.
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